segunda-feira, janeiro 08, 2018

(DL) À procura do pai desconhecido

O centenário do nascimento foi há quase um ano, mas Juan Rulfo merece que a ele regressemos, tão incomparável se revelou a rara produção escrita. “Prosa poética limpa e transparente”, assim a classificou António Mega Ferreira, que também a elogiou como “escrita bela e mineral”.
«Pedro Páramo« foi o romance avidamente lido por Garcia Marquez, quando chegou ao México e logo o entendeu como abrindo caminhos por onde ele próprio intentaria prosseguir. À beira da cabeceira da mãe moribunda o narrador presta-se a cumprir a vontade de lhe procurar o marido. Inicia assim uma viagem que uns aventaram assemelhar-se à de Dante pelo Inferno, mas outros preferiram reconhecer como inserida na linhagem da Odisseia, porque a Ítaca seria aqui o tal pai que o protagonista nunca conhecera.
Às tantas é forçoso reconhecer a omnipresença da morte, que está em todas as conversas e vai acentuando a pressentida imaterialidade progressiva do narrador. Afinal também ele estará já a palmilhar um território das trevas.
Mas que outro poderia sugerir o México do início dos anos 50, quando Rulfo escreve a sua história e olha à sua volta e só vê o efeito destruidor de um rol infindo de revoluções e contrarrevoluções? Não fora o próprio pai de Rulfo, um latifundiário colado a uma das fações, a vítima mortal de um desses episódios?
Embora se viesse a ajustar mais à obra do autor de «Cem Anos de Solidão», o realismo mágico também começava a passar por aqui...

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