Nos cinco anos passados a bordo do HMS Beagle, Charles Darwin catalogou uma imensidão de novas criaturas, transformando a forma como os seres humanos se passaram a ver relativamente a outras espécies. Colecionando rochas, fósseis, animais e plantas, ele ia enviando os testemunhos da sua investigação para Cambridge sempre que encontrava oportunidade nos sucessivos portos escalados pelo navio. Mas a principal ferramenta de que dispunha para documentar as descobertas era a palavra escrita e o seu «Journal of Investigations» (hoje conhecido por «The Voyage of the Beagle») constitui relato muito pormenorizado e gráfico do que ia concluindo. Até porque, tendo a noção da degradação dos espécimes e o risco de desaparecimento das pinturas ele forçava-se a ser o mais rigoroso possível nesse permanente relatar do que descobria. Seria fundamental que outros pudessem imaginar o que os seus olhos viam como se a seu lado tivessem estado.
Muitas das palavras por ele utilizadas foram retiradas da «Nomenclatura das Cores de Werner», um livro publicado em 1814 pelo artista escocês Patrick Syme em que este sistematizava uma centena de cores nas suas mais diversas tonalidades, através de amostras, nomes e descrições.
Pintor de flores e professor de arte, Syme recorrera a muitas comparações do mundo natural, fazendo corresponder as observações aos padrões de cores definidos no livro em causa, Darwin podia codificar as cores de um mundo desconhecido e transferi-lo assim para Inglaterra. Se houve quem qualificasse a escrita de Darwin como a de “um pintor de paisagens de primeira categoria com a caneta”, o elogio muito deveria ter sido transferido para o artista escocês. Mas, nessa ápoca, o guia de Syme não era o único disponível: por toda a Europa abundavam taxonomias de cores da autoria de muitos artistas e naturalistas, que ambicionavam com eles estabelecer um conjunto padrão de rótulos para o espectro visível garantindo uma equivalência entre a palavra e o mundo. O resultado foi o de criar uma tremenda confusão. Ainda assim, e até ao advento da fotografia a cores, a opção de Darwin constituiu uma metodologia eficaz para transmitir a riqueza prodigiosa de uma Natureza bem mais complexa e rica do que teriam podido imaginar os patrocinadores da sua expedição.
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