quinta-feira, janeiro 25, 2018

(DIM) O terror quase absoluto no écrã

Assumidamente gosto de filmes de terror. Porque constituem divertimento com efeitos catárticos em coisas subconscientes, que nunca pretendi explorar (o que poupei assim com psicanalistas ou psiquiatras!), mas, sobretudo, porque lidos com profundidade distinta da sua apreciação passiva, pode sugerir crítica contundente da nossa sociedade capitalista.
O que representam os zombies senão emanações de um sistema assente na exploração do homem pelo homem, aparentemente invencível, mas a que um punhado de resistentes tenderá a pôr fim? E o canibalismo senão a expressão desse mesmo tipo de organização social em que existe quem se julgue legitimamente com direito de se alimentar da carne alheia? Ou o vampirismo como o contágio, que tanto assustou quem se viu rodeado de quem podia perfeitamente transmitir-lhe a sida?
No ciclo que tem dedicado ao medo ao longo do mês de janeiro a Cinemateca possibilitou a revisão de três dos títulos mais interessantes dos anos 60 e 70 subordinados a esse género cinematográfico.
«Night of the Living Death» de George Romero (1968) transformou-se num filme de culto e definiu o cânone em torno do qual os filmes com zombies se exprimiram desde então. Iniciando-se num cemitério, onde um par de irmãos se vê ameaçado por um desses monstros saídos da respetiva campa, passa-se quase todo numa casa de campo, onde um grupo de sobreviventes procura resistir aos sucessivos ataques de um número crescente de mortos-vivos.
Para além da metáfora Romero não deixava de aludir aos preconceitos racistas facilmente transformados em «acidentes» homicidas.
Quando vi «The Texas Chainsaw Massacre» de Tobe Hooper (1974) pela primeira vez achei-o tão insuportavelmente grotesco, que não aguentei até ao fim. E, de facto, há quem o considere o mais horrível filme de sempre com uma família de canibais a matar sucessivamente o grupo de miúdos meio-hippies, que teve a desdita de lhes aceitar o convite para em sua casa se alojarem. O argumento baseava-se na história real de um serial killer, Ed Gein, que fez correr rios de tinta nos jornais norte-americanos no final dos anos 50.
«Rabid», que David Cronenberg rodou em 1977, deveria ter a então famosa Sissy Spacek como protagonista, mas acabou por a substituir por uma das estrelas porno de então, Marilyn Chambers, apostada em reciclar-se para um tipo de cinema com outras ambições.
Essa escolha acabou por se revelar judiciosa ou não tivesse a indústria de que ela proviera sido posta em causa pelo influxo da Revolução Sexual dos anos 60 devido às imposições puritanas suscitadas pela epidemia do HIV.
Nesta história um laboratório era o responsável pela ameaça apocalítica suscitada pelo apetite voraz por sangue de quem se viu contagiado pelas sucessivas vítimas dos ataques iniciados por uma mulher sujeita a anódina intervenção cirúrgica. A epidemia descontrola-se, aparenta ser inesgotável na criação de mais e mais vítimas.

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