quinta-feira, janeiro 18, 2018

As Partes do Todo (IX) - 18 de janeiro de 2018: um doido furioso à solta na net

Não me admiraria que viesse a ser um dos convidados da Fundação do Pingo Doce para dar umas conferências em Portugal, deliciando o pessoal do «Observador» e o João Miguel Tavares: Jordan Peterson é um dos youtubbers de sucesso nesta altura, contando com um milhão de assinantes, que lhe garantem um rendimento de mais de sessenta mil dólares mensais.  Apreciado por muitos jovens na idade dos vintes difunde a ideia de as Humanidades estarem a corromper os alunos das universidades norte-americanas.
O movimento Alt-right promove-o como um do seus gurus e a Fox & Friends convida-o amiúde para dar uso ao inegável talento de comunicador. Invariavelmente fala contra os direitos das minorias, mormente as sexuais relativamente às quais não esconde o seu ódio, mostra simpatia pelos suprematistas brancos e defende a importância social do «espírito masculino», culpando as feministas de estigmatizarem injustamente qualidades como a competitividade. No fundo procura dar uma cobertura intelectual ao fanatismo e à misoginia.
Nascido e criado num lugarejo remoto no Estado de Alberta (Canadá) doutorou-se em Psicologia Clínica, reivindicando-se do legado de Jung. Hoje dá aulas na Universidade de Toronto, mas há fortes pressões para que seja dela corrido a pontapé. Porque a antipatia que gera é a suficiente para que os amigos não façam gala dessa condição pelo medo de serem associados aos seus valores crapulosos.
Com muitos dos atuais comentadores de extrema-direita, que invadem o espaço mediático, começou por ser um entusiasta do socialismo mas, depois de uma depressão avassaladora, mudou-se de armas e bagagens para o campo oposto. De tal forma está tão inseguro nessa nova identidade, que exagera na confissão de fé: tem comprado cópias de quadros e de ilustrações do realismo soviético para decorar o escritório e as principais divisões da residência para se lembrar que as Utopias podem tender para o horror. Aos seguidores dá endereços de sites e de cursos a evitar por neles identificar sinais do pós-modernismo, que considera um disfarce ideológico do execrado marxismo.
Que tudo nele parece muito instável demonstra-o reconhecimento de sofrer frequentes estados de ansiedade. No fundo vai demonstrando ser um ídolo de pés de barro, que, enquanto mantiver a influência em tantos incautos simpatizantes da sua causa, consegue ser extremamente perigoso. Até ao dia em que for internado como definitivamente doido...

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