quinta-feira, janeiro 11, 2018

As Partes do Todo (III): 11 de janeiro de 2018: a reação de um macho latino ao discurso estupido de algumas feministas

Tenho-o escrito nos últimos tempos: é singular que se tenha instituído uma espécie de caça ao assediador sexual desde que Weinstein foi denunciado por umas quantas atrizes de Hollywood, enquanto uma imensa amálgama de mulheres se deleitaram com a prosa de «As Cinquenta Sombras de Grey» em que a protagonista se sujeitava a tratos de polé por um execrável sádico.
Vem isto a propósito da polémica atualmente em curso em França, tendo de um lado feministas fanáticas, que descrevem os homens como seres repelentes sempre orientados para a predação sexual das suas vítimas, incapazes de recuperarem dos seus traumas, e, do outro, um abaixo assinado liderado por Catherine Deneuve, Sarah Chiche e Catherine Millet, que, não pondo em causa o carácter criminoso da violação ou do verdadeiro assédio, alertam para o discurso estupidamente antimasculino e para a imposição de um puritanismo que, em última análise, diminui as mulheres em vez de as valorizar.
Com a sua forma expedita de reagir a escritora Christine Angot, que sabe bem do que está a falar, disse sem papas na língua, que uma mulher sujeita a violação ou a incesto só tem de se levantar, de nada lhe valendo ficar-se pelo discurso de eterna vítima. A não ser que pretenda ver-se num papel infantilizado, que lhe pode dar prazer, mas nada contribui para a valorização do papel das mulheres na sociedade.
Mas a história do abaixo-assinado, que tanta histeria causou nas feministas puras e duras, surgiu de uma conversa de Sarah Chiche com uma editora, que lhe terá confessado a forte improbabilidade de, nesta altura, um livro como o de Catherine Millet («La Vie Sexuelle de Catherine M.») chegar ao prelo por não ter personagens femininas suficientemente identificadas com os seus traumas, nem a queixarem-se das vicissitudes por que terão passado.
De repente cria-se um ambiente infecto na cultura em que há quem altere o final da «Carmen» de Bizet, pondo a protagonista a matar Don José em vez de por ele ser morta. Por «liberdade criativa» argumentou o traste, que a tal se atreveu. E os exemplos vão-se-sucedendo: uma campanha contra uma retrospetiva de Polanski na Cinemateca francesa, como se a obra fosse o homem e vice-versa, não existindo uma óbvia separação entre a personalidade e a sua criação; a censura a um cartaz com um nu pintado por Egon Schiele; a solicitação para ser retirado um quadro de Balthus de um museu pela sua sugestão pedófila. Ou o adiamento de uma retrospetiva de Jean Claude Brisseau.
Até onde imporão as novas pitonisas do politicamente correto antimasculino? A exigirem que se reescreva o final de Emma Bovary para que ela não se veja punida? Tapar partes de alguns quadros de nus ou sujeitá-los a autos-de-fé  se pensarmos na «Origem do Mundo» de Courbet?
Sob o manto de algumas situações condenáveis, a nova Inquisição feminista chega a tal desatino que, qualquer dia, para que um homem consiga ir para a cama com uma mulher terá de, previamente, assinar com ela um contrato sobre o mútuo consentimento, passando previamente pelo notário a validá-lo antes da consumação do ato.
Manifestamente algum discurso feminista dos dias de hoje polui o nosso ambiente social com uma visão profundamente puritana deveras reacionária. Que irrita, mas ao mesmo tempo intimida! 

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