sábado, janeiro 06, 2018

(DIM) O medo na abordagem dos Lumière, de Whale, Hitchcock e Terence Fisher

O que justifica o apreço de muitos espectadores de cinema por filmes concebidos para lhes causarem medo? Que mecanismos do subconsciente, senão mesmo do inconsciente, fundamentam esse interesse, seja por nele encontrarem resposta para inquietações inomináveis, seja pelo alívio catártico para angústias quase insuportáveis? E como induzir mais eficientemente esse medo: através de sugestões levadas quase até ao paroxismo da tensão, ou pela explicitação sangrenta dos perigos representados?
São estas, e por certo muitas outras, as questões levantadas pelo ciclo dedicado pela Cinemateca ao Medo durante este mês de janeiro. Nesta primeira semana a abordagem do tema começou com o mítico filme dos Lumière sobre a chegada do comboio à estação de Ciotat, que deixou estarrecidos os espectadores da sua primeira exibição pública em 1895, temerosos de verem a locomotiva saltar da tela e atropela-los ali, na pequena sala para onde os aliciara a palpitante novidade, que prometia agitar a já frenética sociedade parisiense desse fim de século.
Foi igualmente exibido «O Homem Invisível», que James Whale rodou em 1933, e cuja série televisiva, na viragem dos anos 50 para os 60, me assombrou a mente infantil, intimidada pela ideia de haver quem se pudesse esconder com tal disfarce, que no-lo tornaria impercetível, mesmo estando ao nosso lado. Na estória adaptada de H.G. Welles o cientista, que descobrira o segredo para se tornar invisível enlouqueceria, mas o filme tinha, sobretudo, o interesse em apreciar os engenhosos efeitos especiais concebidos por John Fulton para credibilizar a intriga.
De 1960 exibiram-se dois filmes, muito diferentes na forma como exploravam as ansiedades dos espectadores: «Psico» de Alfred Hitchcock e «As Duas Faces do Dr. Jekyll» de Terence Fisher.
Hitchcock ganhou fama como competentíssimo criador de suspense e isso confirma-se no filme com Anthony Perkins em que se multiplicam cenas difíceis de apagar da memória desde a do chuveiro até à da revelação da identidade da mãe do dono do motel.  Dos filmes exibidos esta semana é, por certo, o que melhor explora a capacidade de encostar o espectador à cadeira e pô-lo em apneia nos picos de tensão, até lhe dar tréguas e logo o sujeitar a novo aperto emocional.
O filme de Fisher foi concretizado nos estúdios da Hammer, que criou nessa década de sessenta uma autêntica linha de produção de filmes de terror, tendo quase sempre a presença de pelo menos um desta tripla de atores: Christopher Lee, Peter Cushing e Vincent Price. Porque muitas das histórias eram vividas em mansões lúgubres com os dias quase sempre cinzentos, disse-se serem obras «góticas». Apesar de esquecidos, alguns desses títulos continuam a ser autênticas pérolas para cinéfilos exigentes.

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