quarta-feira, janeiro 24, 2018

(DIM) «Volver», de Pedro Almodovar, amanhã no Cineclube Gandaia

«Volver» assinala o regresso de Pedro Almodovar ao universo feminino, depois de, em dois filmes seguidos («Fala com Ela» e «Má Educação») tê-lo deixado subalternizado. E as primeiras cenas, passadas num cemitério ventoso com várias mulheres a cuidarem das campas dos seus defuntos, logo nos revelam que assim será durante todo o filme. Os homens regressam ao papel de meros figurantes, que intervém na ação quase sempre negativamente, mas não a conseguem determinar. Porque aqui são as «mammas» quem mais ordenam com a convicção e tenacidade das que costumávamos ver no cinema italiano (não é por acaso que Anna Magnani será uma das referências cinéfilas mais explicitas do filme!).
Se a morte está presente desde esse primeiro momento, ela prosseguirá como uma constante na intriga da autoria do próprio Almodovar, seja na forma da vertente policial do enredo (há um crime sem castigo!), na da doença incurável da pitoresca Agustina que, ainda viva, costumava cuidar da sua própria sepultura, e de um fantasma, que depressa desconfiamos não o ser, mas que as principais personagens levarão mais algum tempo a compreender que se trata de alguém bem real. Mas, como contraponto da morte há a exuberância da vida e ela revela-se insuperável nas cores garridas, que caracterizam a grande maioria dos filmes do realizador e dão substância à verve empreendedora da inquebrantável Raimunda.
Na sua construção tipo matrioska há várias razões para o título do filme: porque para além da primazia feminina, Almodovar reconduz a sua câmara à região natal, essa Mancha, onde D. Quixote costumava batalhar com moinhos. A figura da mãe volta a ser o pólo em torno do qual circula toda a intriga. O sexo, na sua expressão violenta, abusiva, faz-se de novo presente. E as produções cinematográficas, na forma de uma equipa de rodagem que dá fôlego ao restaurante de Raimunda, voltam a entrar filme adentro. Mas, para que o Volver fizesse ainda maior sentido, este foi o filme em que, dezoito anos depois, e após uma quezília que chegou a ser muito mediática, Almodovar e Carmen Maura voltaram a trabalhar juntos.
Por isso se considera ser este o filme dos eternos retornos e dos regressos impossíveis. 

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