Os prémios de cinema europeu têm sido atribuídos a realizadores portugueses com bastante frequência. Mas depois de termos tido consagrações várias para Manoel de Oliveira, João César Monteiro ou Fernando Lopes, a sucessão está mais do que assegurada, não só com Miguel Gomes e João Pedro Rodrigues - os mais bem sucedidos dos atuais nas longas-metragens - mas também com os valores, que têm sido descobertos através das curtas-metragens. Destes últimos é João Salaviza o mais prometedor, ou não tivesse sido já galardoado com o Urso de Ouro em Berlim e com a Palma de Ouro de Cannes para dois dos seus filmes nessa duração mais limitada. E a passagem para as longas, já cumprida com «Montanha» confirma essas justas expectativas.
Se «Arena» já tinha andado a abordar o tema da liberdade, a partir de um personagem condenado a prisão domiciliária num bairro de Chelas, «Rafa» é a demonstração do percurso iniciático para um miúdo de 13 anos que, no espaço de um só dia, cruza o rio (houve já quem cantasse que a ponte é uma passagem!) conhece a realidade da prisão, da violência, da fome e acaba com um bébé nos braços.
É certo que quem ficou presa foi a mãe, acusada de ter tido um acidente com o carro do namorado sem sequer ter carta, ou que a criança é o sobrinho, filho da sua irmã adolescente, que simboliza a realidade das mães solteiras, mas Rafa está em contacto com todo o pacote de problemas de um miúdo suburbano, demasiado cedo empurrado para as vertentes mais inquietantes da vida adulta.
Interessa sublinhar que muitos dos que integram a geração mais jovem dos que procuram a glória de fazer cinema em Portugal, estão-se nas tintas para os problemas existenciais da burguesia e optam por revelar esse lado mais dramático de quem faz de cada dia uma permanente luta pela sobrevivência.
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