Seja nos romances, nas novelas e contos, nos volumes autobiográficos ou, mesmo, nos textos de reflexão crítica, o olhar é determinante na obra de Henry James. Porque, para ele, olhar era conhecer, e conhecer era possuir. Mas este privilégio só estava reservado aos personagens capazes de renunciar à facilidade da ação para se entregarem aos prazeres da contemplação ou aos que aceitassem os desafios tendentes a levá-los ao conhecimento e à lucidez.
O olhar que James fixa nos seus personagens, ou no que estes trocam entre si, não é direto, nem simples. É um olhar que espia e desvenda o ser nos raros momentos em que ele deixa cair as suas defesas sociais. Ainda assim não é uma pessoa ou uma personagem que emerge dessa observação, mas meras presenças ou reflexos delas, que lhes estão na natureza mais profunda. É que, para o autor, “cada um de nós é um feixe de reciprocidades”, o que o aproxima bem mais de romancistas contemporâneos do que dos do seu tempo.
A técnica narrativa de James é muito peculiar, porque a luz que ilumina os seus personagens depende muito da que banha os que os observam. Essa técnica está bem presente em «The Portrait of a Lady» («Retrato de uma Senhora», 1881), onde encontramos Isabel Archer como tratando-se de uma jovem e ingénua americana acabada de chegar à Europa. Vemo-la, então, evoluir entre o seu primo enfermo, o marido sombrio e cruel, uma intriguista que a manipula e numerosos pretendentes recusados.
Trata-se de um inesquecível retrato construído com sucessivos retoques, que lembra o de outra conhecida puritana: a Hester Prynne de «A Letra Escarlate». O que não admira: James sentia uma intensa afinidade com Nathaniel Hawthorne a quem até consagrou um livro em 1879.
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