Para Garcia a vida intensa é a tentativa de sentir interiormente que se têm experiências capazes de suscitarem um autêntico choque interior, derivem elas do amor, do trabalho, do lazer ou, de quem nisso acredita, da espiritualidade. O inimigo a combater é o tédio. E ganhou verdadeira expressão quando o homem acedeu a uma das suas descobertas mais transformadoras: a utilização coletiva da eletricidade.
A velocidade, o progresso, o crescimento, a aceleração, etc. tomaram conta das nossas vidas como se elas se convertessem em carruagens de uma montanha russa.
Nascido em 1981. o filósofo lembra como, de repente, a corrente elétrica substituiu a água de um rio como imagem do futuro: “a eletricidade tornou-se numa espécie de água invisível, alojada no próprio centro da matéria e qualificada numa primeira fase como ‘fluido subtil’: uma água de fogo capaz de misturar as características da primeira (movimento e fluidez) com as do segundo (calor e luz) para formar uma energia até então desconhecida.”
A partir do século XVIII a modernidade tornou-se elétrica e iniciou-se este período de intensidade. O que nos leva a arriscar a possibilidade de diminuirmos o nosso tempo de vida, quando tudo fazemos para o aumentar. Por isso Garcia propõe que a sabedoria está em quem evita os picos altos e os desfiladeiros mais abruptos, com os seus humores e paixões. Por isso mesmo deve-se aplanar as intensidades do quotidiano, celebrando sobretudo a sorte de se estar vivo.
Quando se mede a intensidade de uma existência avalia-se se ela realizou-se nos seus objetivos em maior ou menor grau, como se lembrasse uma cor, que pudesse ser mais viva ou mais baça.
Ela não é uma qualidade estável, mas antes o que se sente como comparação: a queda livre consegue ser uma experiência muito forte, mas se a praticarmos todos os dias durante trinta anos, tornar-se-á extremamente aborrecida. É por isso que a ética moderna da intensidade obriga o indivíduo a nunca estar parado, a esquecer a perspetiva de repouso. Salvo se for um émulo de Oblomov, o personagem de Goncharov, que conseguia encontrar um autêntico deleite na preguiça.
Quem quer uma vida intensa está condenado ao fracasso, porque sempre surgirá o momento em que a rotina o impõe. E esse é o desafio que se deve combater: a inevitável tendência para regressar aos padrões do passado, quando se sentia resignação perante o que era imutável.
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