Jack London fez da escrita profissão, o que significa a necessidade de escrever rapidamente textos capazes de suscitarem interesse público e facilmente publicáveis em forma de livro ou de folhetins em jornais.
É relevante esta ressalva para considerar que esta novela de 1915, escrita um ano antes da morte precoce do escritor, então com 39 anos, mais não é do que uma curiosidade por imaginar uma distopia em meados do século XXI.
Desconhecemos até que ponto London foi aqui influenciado pelo que começava a provir da Europa como a notícia de um horrível morticínio, que se traduziria, dois anos depois, por cenários apocalíticos de trincheiras devastadas pela doença, pela lama e pelos ataques com produtos químicos.
Nesta história temos um velho e três netos a saberem-se escassos sobreviventes do cataclismo, que reduziu a população da Baía de São Francisco a apenas quarenta habitantes. Os miúdos já caíram num estado meio selvagem, mas ainda se interessam pelas memórias do ancião, que lhes faz o relato de como a civilização humana, tão próspera e desenvolvida, se vira destruída, quase de um momento para o outro, por uma estranha e muito contagiosa epidemia capaz de matar as suas vítimas em poucas horas.
Nunca se terá qualquer explicação para a imunidade dos que tinham escapado a tal vírus, mas, completamente descoroçoado com tudo quanto vê, o antigo professor universitário da área das Humanidades compreende que a evolução da espécie voltará a passar pelas fases da ignorância, da superstição e da violência até retomar, - daí a milhares de anos! -, o tipo de organização social existente na altura do seu colapso.
Não deixa de ser, porém, singular que um escritor assumidamente socialista, tido como um dos mais progressistas intelectuais do seu tempo, se revelasse aqui tão pessimista. É que olhar para o lado sombrio da evolução histórica não condiz com quem nela pretende vincar a probabilidade utópica.
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