quinta-feira, agosto 04, 2016

(L) Introdução ao universo romanesco de Henry James

Americano de origem, mas tendo escolhido a Inglaterra como país de adoção, Henry James é um dos escritores que melhor captou a complexidade do ser humano, explicada, ora pela herança puritana e o seu correspondente maniqueísmo, ora pela crença num Mal escondido, mas presente, impreciso e diabólico, para além de insidiosamente contagioso.
A esse substrato maléfico associa-se a ausência de raízes identitárias com solidez bastante para o evitar, dividindo-se alguns dos seus principais personagens entre as características americanas e as europeias.
Ainda assim a crença de James quanto à existência de uma personalidade compartimentada não decorre apenas desse puritanismo e do exílio. Ele propõe uma conceção do ser humano num tipo de fragmentação, mais próximo da multiplicação do que da divisão.
O resultado é uma obra consagrada à riqueza intangível da personalidade, que se mostra ao leitor como estando continuamente em construção. O que ganha particular relevância são as interações entre as personagens, o que as liga ou opõe, revelando assim as respetivas consciências.
“Nunca se sabe o tudo do nada!” escrevia ele justificando que o seu universo se tenha recheado de sugestões, de incertezas, de suspensões. Ver, captar, adivinhar, espiar. Nada concluir, nada escolher entre a multiplicidade dos pontos de vista. São essas as linhas de força de um universo romanesco em que o olhar é o espaço da possessão.

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