A RTP2 tem andado a transmitir uns pequenos documentários de menos de meia-hora intitulados «À Porta da História», realizados por Jorge Paixão da Costa. Temos assim acedido - pelo menos nos episódios mais recentes! - a um período histórico, o do final do século XIX e inícios do século XX - sobre os quais não faltam documentos esclarecedores, mas cujos ecos se vão desvanecendo no nosso imaginário coletivo.
Esta semana a personalidade focada foi Bulhão Pato, que muitos conhecerão pelas aclamadas amêijoas, mas poucos terão lido enquanto poeta ou memoralista.
Ora Bulhão Pato esteve bem presente na minha infância, porque, tendo morrido em 1912 no Monte da Caparica, ainda aí viveu quando os meus avós maternos ali ganhavam o sustento na sua Quinta de Castelo Picão. Por isso, em criança, era um nome frequentemente por eles citado com admiração, e até pela minha mãe, muito embora esta só tivesse nascido catorze anos depois da morte do poeta.
A casa de Bulhão Pato ficava na Torre - ainda por lá deve estar a placa alusiva! - no caminho que eu percorria entre o Monte e a quinta dos meus avós e as primeiras letras aprendi-as quase ali ao lado na escola de umas velhas solteironas, que «desemburraram» sucessivas gerações de gente da terra. Decerto que elas terão conhecido bem o vizinho e até porventura servido de musas aos seus poemas ultrarromânticos, já que começavam a ser balzaquianas quando ele morreu.
Tenho também a experiência de passar com frequência em frente à campa do escritor, quando vou ao cemitério do Monte da Caparica, até porque ela está quase em frente ao jazigo dos Trindades, onde repousam os ossos do ramo materno dos meus antepassados. Foi a esse lugar, que Bulhão Pato dedicou um dos seus derradeiros poemas, quando já ali se dirigia, amiúde, com a noção plena de vir a ser a sua derradeira morada. E, como acreditava porventura no Além, e dali ainda era possível escutar o mar - hoje nem sequer audível a pouca distância - teria decerto nesses passeios um explicito conforto.
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