É comum em Henry James, que os personagens masculinos se resguardem na posição de observadores, vendo e sendo vistos, ao contrário das mulheres que, pelo contrário, dominam, destroem, fomentam e provocam. Umas são vampiras que se alimentam de outrem, enquanto há também as de um canibalismo mais subtil, que chegam aos seus fins através da própria morte, como ocorre com Milly Theale em «The Wings of the Dove» (1902) ou em «Maud-Evelyn».
Em geral a figura masculina é ambígua, fraca, predisposta para a renúncia ou para a cobardia, para a dissimulação e para a impostura, enquanto a feminina, ora se revela possessiva, ora se entrega ao sacrifício, á devoção.
James costuma descrever admiravelmente as crianças, o que levou a psicologia moderna a encontrar na sua obra alguns aspetos freudianos relacionados com a sexualidade infantil e com a sua defesa instintiva face aos adultos. O escritor descreve os seus jogos simbólicos e a curiosidade sempre pronta para descortinar o que lhe pretendiam esconder. Mas há também a sedução dos adultos por essas crianças, numa mistura de inocência e de conhecimento, que quase subverte as normas vitorianas. Daí que James dê largas à sua capacidade de sugerir o indizível com as frases que ficam interrompidas ou as intrigas congeminadas clandestinamente. O mal está sempre a ser pressentido, revelando-se inquietante e obscuro.
Os «Cadernos» do escritor e os seus volumes autobiográficos permitem-nos encontrar a resposta para a razão dos temas por ele escolhidos e que encontram bastantes interligações com a sua própria biografia: Henry era filho de um visionário sonhador, que sofreu a amputação de uma perna. Na adolescência uma oportuna depressão livra-o do alistamento para a Guerra da Secessão.
Influenciado pela forte personalidade do irmão, o filósofo William James, e das mulheres do seu círculo familiar, Henry depressa ambicionou encontrar na literatura uma espécie de catarse.
No seu percurso criativo irá conhecer três períodos distintos: o primeiro corresponde ao das suas viagens por Itália e pela França, onde conhece escritores fundamentais do seu tempo, como Tourgueniev e Flaubert. Escreve contos e críticas para o «The Nation» e para o «The Atlantic Monthly« e começa a arriscar-se a voos mais altos com os primeiros romances, entre os quais se encontra «Daisy Miller».
Entre 1881 e 1885 tenta impor-se como dramaturgo em Londres, mas as suas peças são vaiadas na mesma altura em que Oscar Wilde conhecia fulgurante sucesso.
Entre 1895 e 1916 ele publica as suas obras mais famosas e apreciadas, morrendo em plena guerra depois de se tornar cidadão inglês quando ela estava a começar.
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