sexta-feira, abril 12, 2019

(E) O deserto salgado do Altiplano boliviano


Dos países latino-americanos a Bolívia é um dos três que nunca os meus pés pisaram. O que não admira: se ao Suriname não fui, porque nunca as viagens em navios mercantes ali me levaram, à Bolívia e ao Paraguai essa hipótese nunca se colocaria, porque situam-se bem no interior do subcontinente, sem qualquer porto de mar, que justificasse mais ou menos duradoura escala. Mas confesso, que tenho pena porque, em geral, em todos os seus vizinhos encontrei bons motivos para conservar impressões muito positivas.
Provavelmente la Paz não me interessaria tendo em conta os problemas urbanos, que comporta, mas outra seria a atitude se surgisse a oportunidade para visitar as margens do Titicaca ou o Salar de Uyuni.  No caso deste último reivindica-se a condição de ser o sítio do planeta onde o brilho do sol se reflete com maior intensidade. De tal forma que os astronautas da Apollo 11 detetaram essa região muito branca à superfície da Terra e julgaram tratar-se de um glaciar gigantesco. Razão para que, quem vive da extração do sal do antigo lago situado a quase quatro mil metros de altitude, seco desde tempos imemoriais, e daí reduzido a vasta extensão com uma camada de salmoura com 120 metros de espessura, têm de proteger o rosto, e particularmente, os olhos para não sofrerem os efeitos de uma tão demorada exposição a tanta luminosidade. Hoje carregam camiões com o produto da sua porfiada escavação mas, ainda não há muito tempo, formavam-se caravanas com lamas, que carregavam nos dorsos as placas de sol depois comercializadas por todo os lugarejos andinos.
Nas redondezas do lago salgado, sobretudo nas encostas do vulcão adjacente, há índios aimaras a viverem do pastoreio desses animais das grandes altitudes sul-americanas, recorrendo à deusa Pachamama para que a chuva lhes prodigalize verdura em abundância.
Há também quem viva do crescente turismo oferecendo aos forasteiros o surpreendente palácio de Sal, cujas paredes, colunas e cúpulas foram construídas com tijolos desse material ali tão abundante.. E cresce de importância a iminente exploração do lítio. O perigo reside em que essa nova atividade mineira não imite a ali existente no final do século XIX, quando a corrida à prata legou ao deserto as ferrugentas estruturas metálicas, incluindo as de composições ferroviárias, ali abandonadas como símbolo da exploração desenfreada pelos recursos naturais sem atender ás consequências poluidoras, que dela resultaria.

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