terça-feira, abril 09, 2019

(DIM) António Pedro Vasconcelos: um índio em pé de guerra


A pretexto dos oitenta anos de António Pedro Vasconcelos a RTP apresentou um documentário com duas horas de duração, divididas em outras tantas partes. Realizado por Leandro Ferreira e Pedro Clérigo o filme homenageia-o na forma de uma abordagem autobiográfica da vida e obra, complementada aqui e acolá com testemunhos de amigos e familiares, ou com extratos dos seus filmes e de imagens de arquivo.
Confesso nunca ter sido um apreciador dos filmes que dele vi: inegavelmente bem feitos  nunca lhes vi outra ambição, que não fosse a tradução em imagens de uma boa história. Após os entusiasmos ideológicos de antes e depois da Revolução de Abril, APV considerou possível, se não mesmo desejável, um tipo de cinema de entretenimento, que testemunhasse o presente ou o passado, mas sem inquietações quanto ao que possa vir a ser o futuro. Daí que veem-se-lhe os filmes, mas depressa deles nos esquecemos por pouco comportarem de verdadeiramente memorável.
Há que reconhecer que, como pessoa, APV é-me simpático. Não pela sua posição em relação ao Acordo Ortográfico, que nos situa em polos opostos, nem pelas simpatias clubistas, também elas divergentes. Mas, reconheça-se que teve posições políticas bastante incisivas contra o governo anterior, particularmente quando parecia inevitável a privatização da TAP. Nessa altura o compromisso cívico foi assumido sem tibiezas e com grande motivação.
O documentário agora disponibilizado fica como um testemunho indispensável quando, em distante futuro, se pretender um conhecimento consistente do que foi o ofício de cineasta entre a segunda metade do século XX e as duas primeiros décadas deste milénio. Que implicou passar fome a sério em Paris ou ser alvo do ódio de estimação de uma figurinha tão mesquinha como o foi a Zita Seabra de má memória.

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