sexta-feira, abril 05, 2019

(DIM) «Crimes na corte dos Médicis» de Judith Voelker e Alexander Hogh (2012)


Florença não teria alcançado o seu encanto sem a importante influência dos Médicis. Ricos comerciantes, assenhorearam-se do poder político e utilizaram-no a bel-prazer, sempre a seu favor, numa sucessão ininterrupta de intrigas e traições.
Dos filhos de Cosme I, Isabel era a favorita. Culta, poliglota e mecenas de artistas, ostentava uma liberdade de ação incomum para a grande maioria das mulheres do seu tempo. Os irmãos não lhe perdoariam as ousadias e, quando o pai morreu, em 1574, não tardaram a coartar-lhe os passos. Fernando, sucessor do pai, e Ferdinando, que prosseguira carreira cardinalícia em Roma, trataram de a enclausurá-la até à morte, ocorrida dois anos depois. Como? Não se sabe, mas suspeita-se de uma conspiração em que o marido traído e os irmãos invejosos se terão conjugado para organizarem e executarem o projeto de a assassinarem.
À distância de mais de quatro séculos ninguém conseguiu encontrar a sua última morada, sendo surpreendentemente elucidativa a sua inexistência nas criptas da família. Seria curioso que, graças aos avanços conseguidos na medicina legal, se obtivessem muitas das respostas às perguntas em torno de uma personalidade fascinante, que pareceu demasiado avançada para a sua época.
Dois anos depois da morte de Isabel, é a cunhada, Joana de Áustria, quem morre de parto. É a oportunidade tão esperada por Francisco para desposar a amante veneziana, Bianca Cappelo. De facto, nunca o satisfizera a relação com a esposa, imposta pelo pai, que queria com esse casamento consolidar a aliança dos Médicis com a família Habsburgo. Mas em 1587 acontece algo de muito suspeito: com poucas horas de intervalo, Francisco e Bianca morrem, alegadamente de malária. Só que os sintomas indiciariam o provável envenenamento. A ser assim, quem viria a beneficiar com essas mortes, o cardeal Ferdinando, terá sido provavelmente o autor do crime.
Judith Voelker e Alexander Hogh dão uma versão desassombrada sobre os senhores incontestados da Toscana no século XVI, capazes de amplificarem o poder com as argutas alianças firmadas com as mais importantes cortes da Europa através de casamentos com os seus príncipes ou princesas.
Os quarenta e nove corpos sepultados na cripta da Igreja de São Lourenço estão a ser objeto de estudo por historiadores e bioarqueólogos para que sejam identificados os que continuam anónimos e se acrescentem novos conhecimentos ao que da famosa família já se sabe.

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