sábado, abril 06, 2019

(DIM) «Suburbicon» de George Clooney (2017)


«Suburbicon» é um filme perfeitamente adequado à era Trump. E que George Clooney o realizasse compreende-se tendo em conta as preocupações políticas, que lhe têm guiado normalmente o percurso, quer diante, quer atrás das câmaras. Porque, embora situado em 1947, a história ilustra bem aquela América suburbana branca e racista, que deu uma boa parte dos votos ao pato-bravo hoje sentado na Sala Oval.
A história passa-se numa geografia muito específica em que a chegada de uma família negra ao bairro exclusivamente branco irá suscitar crescente violência racista, distraindo a atenção da comunidade para monstros ainda mais odiosos do que quantos maioritariamente a constituem. Porque Gardner Lodge e a cunhada-amante, interpretados respetivamente por Matt Damon e Juliette Moore) haviam forjado um ambicioso plano: matavam a irmã de Maggie, que ficara inválida na sequência de um acidente de viação, recebiam o dinheiro do seguro e voavam para Aruba a iniciarem uma nova vida a dois.  Não contavam, porém, com a insaciabilidade gananciosa dos dois cúmplices, que os ajudariam a concretizar a primeira fase da conjura.
A exemplo de «Fargo», filme dos irmãos Coen, com que esta história por eles imaginada se assemelha, os planos aparentemente infalíveis começam a descontrolar-se e a situação agravar-se-á na forma de sucessivos crimes, que procuram escamotear a responsabilidade pelos anteriores.
Há também Nicky, o filho de Gardner, e sobrinho de Maggie, que vai assistindo a todos os acontecimentos, depressa compreendendo a autoria de toda a violência sofrida na casa onde vive. Não admira que ele seja o único membro da comunidade a interagir com os vizinhos negros, jogando basebol com o miúdo da sua idade ali recém-chegado. É que, como se diz quase no final do filme, os que se comportam como bestas selvagens não são os negros, mas esses brancos aparentemente bons cristãos, que espumam de raiva perante a serenidade com que a odiada família Mayers reage às suas provocações.
Poder-se-á reconhecer que não se trata de um filme tão qualificado, quanto prenunciariam os que nele colaboraram, mas são inegáveis as boas intenções em atenção a uma sociedade norte-americana em que volta a ser fundamental começar do «B-A-BÁ» dos valores fundamentais para nela impor uma redenção, que a torne menos abominável.

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