segunda-feira, abril 08, 2019

(C) Mercúrio e o seu impressionante núcleo ferroso


O que aprendemos de mais importante sobre Mercúrio foi a proximidade relativamente ao Sol, que impediria qualquer possibilidade de aí medrar vida, pelo menos similar à que como tal costumávamos considerar. Na altura ainda não sabíamos como ela pode existir nos meios mais inóspitos, alargando-nos desde então o âmbito daquela apreciação.
Em abril de 2015, ao orbitar o pequeno planeta, pouco maior do que a Lua, a sonda Messenger veio complementar os conhecimentos já obtidos pelas congéneres Mariner nos idos anos setenta. Devido ao seu brilho, Mercúrio tende a não ser observado da Terra, e muito menos do Hubble, pelos riscos para as lentes de focagem em tão abrasadora realidade.
Uma das novidades recentemente confirmadas tem a ver com a existência de gelo nas fissuras do seu manto. Como é possível haver água num sítio, que tem o Sol tão perto?
Na realidade, Mercúrio é dado a extremos: na face virada para a estrela adjacente tem temperaturas da ordem dos 400º C, mas na oposta elas descem para –180ºC.  Mesmo que, com a rotação do planeta a exposta se torne oculta e vice-versa. Acontece que, na face virada para o Sol, o calor nunca consegue impor-se às profundidades significativas em que o gelo se acoita nessas fissuras. Torna-se, pois, possível que, havendo água, também aí exista alguma forma de vida.
E de onde terá vindo essa água? A exemplo da que chegou à Terra, e propiciou as condições para o aparecimento de vida, esse gelo terá sido legado pelos muitos cometas e asteroides, que terão colidido com Mercúrio numa fase ancestral da formação do Sistema Solar.
Data de há quarenta e cinco anos o conhecimento do intensíssimo campo magnético do planeta: o núcleo ferroso quase chega à superfície, constituída por um manto rochoso menos espesso do que seria natural. Dois terços da massa do planeta é constituído por tal núcleo, dando razão a quem defende a possibilidade de, nesses longínquos passados, o planeta ter sido bastante maior dele se arrastando parte da cobertura na sequencia da colisão com volumoso corpo celeste.
Prova disso seriam os numerosos vulcanites em órbita a distâncias ainda mais curtas do Sol, que ninguém consegue ver tendo em conta o brilho ofuscador aí existente. Mas há também quem defenda um embate com a própria Terra, que terá espoliado Mercúrio desse manto em falta. Nesse caso o solo que pisamos poderá ter estado em Mercúrio em tempos imemoriais.
Outro mistério relacionado com o pequeno planeta tem a ver com a cor intensamente negra, que se explica porque formada de uma mistura de basalto, oriundo dos muitos vulcões em tempos nele existentes, e da grafite, lentamente a emergir à superfície depois de integrar a composição rochosa aquando da formação. A Messenger captou imagens dos leitos de antigos rios de lava e essas profundíssimas escarpas de falha, que indiciam uma ainda sobrevivente atividade tectónica.
A investigação científica sobre Mercúrio também consiste em modelos matemáticos, que pressuponham a evolução futura, mas os consensos ainda tardam entre duas hipóteses extremas: ou será inevitavelmente atraído pelo Sol, nele se fundindo, ou a ação gravitacional de Júpiter, que lhe anda a alongar as órbitas, poderá projetá-lo para a periferia do sistema planetário, não estando descurada a hipótese, ainda que mínima, de vir a colidir com a Terra.
Mercúrio revela-se, afinal, bem mais interessante do que no-lo quiseram transmitir, quando dele quase só captávamos o nome!

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