quarta-feira, abril 10, 2019

(DIM) «Diamantino» de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt


O percurso de Gabriel Abrantes como cineasta chamou-nos a atenção, quando as suas curtas metragens começaram a ser premiadas, ou muito elogiadas, em sucessivos festivais a nível internacional.
Nascido na Carolina do Norte em 1984, começara por apontar baterias para as artes plásticas, mas depressa decidira complementar a atividade com a de realizador de filmes, normalmente associado a Daniel Schmidt que, com ele partilha a responsabilidade pela realização de «Diamantino», o título consagrado com o Grande Prémio da Crítica do Festival de Cannes no ano passado.
Uma das curiosidades que associo aos seus filmes é a de aferir como será possível criar um cinema militante, capaz de sugestionar eficazmente as novas gerações sabendo-as demasiado vinculadas à ideia de espetáculo = entretenimento.
Sendo óbvia a incompatibilidade dos antigos discursos cinematográficos com os valores e os hábitos de quem deve tomar o testemunho dos defensores de maior justiça e igualdade social, a alternativa proposta por Abrantes e por Schmidt parece corresponder a uma resposta com bastante potencial. Porque «Diamantino» começa por ser uma divertida paródia, que vai buscar ao tipo de cinema praticado por Capra, Hawks ou Lubitch, o estilo com que zurzirá na cultura do vedetismo. Réplica não assumida de Cristiano Ronaldo, o protagonista do filme dá o ensejo a Carloto Cotta de memorável interpretação, ao mesmo tempo demonstrando quão pode escassear inteligência a quem terá apenas nasceu com talento para usufruir efémera notoriedade.
Abrantes e Schmidt não se ficam por aí: trazem à liça o drama dos refugiados a par da venalidade de movimentos xenófobos, decididos a recorrerem a todos os meios possíveis para fazerem prevalecer criminosos intentos. Nessa abordagem os realizadores remetem-nos para os antigos filmes de ficção científica de série Z com Joana Barrios a fazer o papel de impressiva vilã, condição que compartilha com as irmãs Anabela e Margarida Teixeira, incumbidas de mostrar quanto a ganância pode justificar as piores vilanias.
Num filme que surpreende com cachorrinhos mimosos e outras singularidades visuais, «Diamantino» constitui uma via possível para o que possa advir da produção cinematográfica nacional...

Sem comentários: