sábado, abril 06, 2019

(AV) «Rouge», um grande acontecimento cultural em Paris


Uma das boas razões para ir a Paris nos próximos meses é a da visita à exposição, que estará no Grand Palais até ao dia 1 de julho. «Rouge» poderá dar resposta a quem se questione sobre como foi possível surgir no crepúsculo da Rússia czarista uma vanguarda, que mostraria tão impressionante dinamismo nos alvores da Revolução bolchevique.
Foram diversos os fatores, que geraram esse movimento artístico: um deles foi a influência da pintura francesa, que muitos intelectuais russos conheceram nos primeiros anos do novo século, participando na vida boémia de Montmartre e Montparnasse, onde Braque e Picasse pontificavam. Obras dos dois pintores cubistas passaram a integrar pinacotecas privadas das elites de Moscovo e de São Petersburgo. Existia, igualmente, a inspiração dos ícones, tão importantes na cultura russa, sobretudo quando a sua representação de figuras santas alcançava uma depuração, que já prenunciava a dispensa do figurativismo. Em 1915 o suprematista Kazimir Malévitch secundaria essa simplificação extrema com o célebre quadrado negro em fundo branco.
Se até 1917 essa vanguarda estava restringida a um grupo de artistas marginalizados dos círculos académicos, a Revolução dá-lhes a oportunidade de substituírem os responsáveis pela definição dos cânones estéticos vigentes, substituindo-os por uma diversificação de propostas de convergência com as transformações políticas e sociais então em curso. A intenção era mudar o mundo e todas as suas formas de representação, fossem as sugeridas pela pintura, pela escultura, pela cerâmica, pelos trabalhos feitos em madeira ou pela arquitetura.
As escolas de Belas Artes, nomeadamente a de Vitebsk, que era a mais conceituada, abriram as portas às mulheres e aos estudantes judeus no propósito de a todos congregar no objetivo de servir a Revolução. Emergem Alexandre Rodtchenko e Varvara Stepanova, sua companheira, líderes do construitivismo, que tão determinantemente viriam a influenciar o design e o marketing publicitário até aos dias de hoje.
Apesar de, a partir dos anos 30, Estaline ter imposto o realismo socialista, com Alexandre Guerassimov como seu arauto, alguns artistas como Alexandre Deineka irão conservar alguma margem de manobra para não se ajustarem totalmente ao espartilho imposto. Uns e outros não deixariam, aliás, de ter como prioridade a utilização da arte como ferramenta fundamental para alterar a realidade no sentido de um irreversível progresso.

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