sábado, abril 13, 2019

(DIM) «Maria by Callas» de Tom Volf (2017)


Melómano assumido, nunca me rendi à tese de ter sido Maria Callas a soprano mais talentosa do século XX. Isso equivaleria a secundarizar grandes nomes do teatro lírico como Renata Tebaldi, Joan Sutherland ou Victoria de los Angeles, só para evocar as que primeiro me vêm à memória e lhe foram contemporâneas. Ademais, as vozes das sopranos de hoje são-me mais simpáticas do que as do passado, como se, em questão de gosto musical, as épocas se diferenciassem igualmente na técnica vocal e na decorrente sonoridade.
O documentário de Tom Volf traz consigo algumas vantagens para quem do mito estava distanciado: um melhor conhecimento das várias fases da sua biografia, mormente colando imagens concretas a ideias mais ou menos estabelecidas sobre ela como a de ser volúvel ou reagir tempestuosamente perante as adversidades.
Quem olha para as récitas por ela abandonadas ao intervalo - sobretudo a do Scala, quando estava no auge da notoriedade! - dá-lhe o benefício da dúvida e relativiza a suspeita de se terem tratado de caprichos de diva. Há, igualmente, a oportunidade de a ouvir em interpretações canónicas de algumas árias de Puccini, Donizetti, Bellini, ou mesmo Bizet, que explicam o seu sucesso.
Volf preocupa-se, sobretudo, em testemunhar-lhe a infelicidade de nunca se ver suficientemente amada, porque se o primeiro marido via-a como trampolim para ganhar a notoriedade, que os seus talentos não justificavam, o armador grego Onassis, que muito amou, trai-la-ia para propor a Jacqueline Kennedy o casamento, que ela sempre com ele quis celebrar.
O problema maior de «Maria by Callas» é o de nunca sair da bolha em que a cantora sempre se movimentou. No pós-guerra o mundo ia passando por sucessivas transformações, que lhe eram completamente alheias. Nem mesmo quando colaborou com Pier Paolo Pasolini, interpretando um muito elogiado papel de Medeia no filme homónimo do realizador comunista italiano, essa atenção ao que se passava nas ruas de Paris ou nos campus universitários norte-americanos nunca terá sido despertada.
Ao morrer precocemente, aos 53 anos, Callas estava definitivamente ultrapassada, e poucos apostariam na capacidade para conseguir regressar aos palcos. Apesar dela ainda acreditar nessa possibilidade!

Sem comentários: