domingo, abril 21, 2019

(DIM) «Acorda Leviatã» de Carlos Conceição (2015)


Em fevereiro deste ano Carlos Conceição estreou a sua primeira longa-metragem no Festival de Berlim, ponto de chegada expetável em quem até então assinara um conjunto de curtas-metragens onde se sentia iminente esse ambicionado salto qualitativo. Foi, aliás, enquanto já trabalhava nesse «Serpentário», que se viu a contas com algum material filmado, não enquadrável nele, e adequado  a uma curta-metragem. Foi, assim, que surgiu «Acorda Leviatã», protagonizado pelo mesmo João Arrais, igualmente no elenco do título a concurso em Berlim.
Para concretizar essa ideia de curta, Carlos Conceição teve de pensar num fio narrativo, que desse coerência às imagens recolhidas em Angola, na Namíbia e na África do Sul, e expresso em voz off. Duas narrativas se associam: por um lado um rapaz, que ciranda por essas paisagens em busca da mãe, mas acaba sobretudo por se conhecer melhor a si mesmo. Por outro uma hipótese distópica, de ficção científica: o súbito desaparecimento da água na superfície terrestre deixando-a seca, árida. Um poema de T.S. Eliott  sobre um mundo a apagar-se lentamente, quase sem disso se dar conta, confere a caução filosófica a uma obra, que esteticamente a secunda. Como se a nossa civilização estivesse condenada a desaparecer, não como um estrondo, mas com um suspiro.

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