No mundo da fotografia não escolheria Bruce Gilden como um dos criadores mais interessantes. Entre ele e um Sebastião Salgado ou um Steve McCurry a diferença é abissal, quanto às que me dão maior prazer visual. Mas olhando com alguma atenção para os seus portfolios será natural, que seja menos radical na predisposição inicial para lhe depreciar os trabalhos. De facto se há quem esteja a recolher imagens mais incisivas sobre o nosso presente, sobretudo dos que nele são figurantes anónimos por se dissociarem dos padrões mais estereotipados, é ele.
Nascido há setenta anos no bairro de Brooklyn, em Nova Iorque, desde cedo se mostrou fascinado pelo mundo dos gangsters, até por nele estar integrado o próprio pai.
À Magnum só chegou em 1998, mas já antes se especializara em fotografias de grandes planos, captadas quase em cima dos surpreendidos modelos involuntários, com que se cruzava nas ruas e noutros espaços públicos. Apaixonara-se, igualmente, pelo Haiti, cuja pobreza, mas simultânea alegria (sobretudo na festa do Mardi Gras!), começara a frequentar desde 1984 e onde voltaria regularmente nos anos seguintes.
Arriscando-se a ser invetivado por quem sente a captação da sua imagem como uma violação à privacidade - notou essa dificuldade sobretudo em Paris! - costuma cirandar pelas ruas, observando os transeuntes e esforçando-se por lhes adivinhar a expressão seguinte, aquela que será efetivamente recolhida pela sua Leica.
No Japão conseguiu ser aceite no ambiente dos seus mafiosos, os conhecidos yakusas, de quem trouxe de volta, dezenas de instantâneos. Mas noutros sítios, como lhe aconteceu em Lima, no Peru, raramente se atreveu a tirar a câmara da sua mala por medo de dela ser rapidamente espoliado. A experiência - ele di-lo na forma como os intestinos se portam - ajuda-o a discernir sobre até que ponto pode ousar na recolha dos testemunhos do espírito de cada lugar.
Durante anos a fio trabalhou exclusivamente a preto-e-branco, que notoriamente prefere por apelar à abstração. As regras de mercado obrigaram-no, porém, a mudar para as imagens a cores, que expressam mais fielmente a realidade. Os rostos, que insiste em captar, sugerem sempre histórias por contar às quais quase todos nós ficaríamos indiferentes se não nos interpelassem na sua estranheza e vulgaridade.
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