Em Islington, bairro suburbano de Londres criado para albergar os que trabalhavam na City, mas se converteria em casas de hóspedes, John Berger encontrou matéria para escrever um dos textos incluídos no seu livro «Aqui nos Encontramos».
Mal afamado. por corresponder a zona de gente pobre, o narrador já o encontra em vias de se tornar bairro na moda, quando aí procura o amigo Hubert, um dos poucos sobreviventes do curso por ambos partilhado numa escola de Arquitetura, quando a guerra estava no seu auge.
O objetivo é muito simples, embora o não queira confessar de supetão ao amigo: resgatar do olvido o nome de uma rapariga, igualmente colega no mesmo curso, com quem chegara a conhecer inesquecíveis experiências eróticas enquanto as bombas ameaçavam cair-lhes em cima das cabeças.
Berger passeia-nos por dois fios condutores paralelos: por um lado mostra-nos o ambiente em que vive o anfitrião, viúvo há doze anos, mas incapaz de mudar o que quer que seja da disposição em que a defunta lhe deixara aquele espaço. Por outro empreende a viagem ao passado, quando essa rapariga a quem gostaria de devolver a identidade do nome se deitava com ele para ambos esquecerem o frio e o medo e as mãos se aventuravam por todos os secretos mistérios dos respetivos corpos. Singularmente, nas manhãs seguintes, eles acordavam e cumprimentavam-se como meros desconhecidos.
Antes de conseguir o nome dessa rapariga, há muito levada pela voragem dos acontecimentos, Berger vai acrescentando histórias pitorescas como, por exemplo, aquela casa, antes de adquirida por Hubert e Gwen, ter servido de bordel ao serviço dos camionistas, que transportavam mercadorias para Londres todas as manhãs.
Quando o relógio assinala asseis da tarde, o narrador despede-se do amigo, quiçá pela última vez, e dá à saudosa rapariga o nome de Audrey, que Hubert conseguira evocar.
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