Em 2014 Pawel Siczek estreou uma longa-metragem dedicada a uma cidade do centro da Polónia, Kozienice, que contava com cerca de dez mil habitantes à data da ocupação nazi, metade judia, a outra católica, mas sempre entendendo-se pacificamente até então.
No campo de Treblinka quase toda essa população judia seria chacinada, sendo a restante fuzilada no campo de Volanoy. E é a sua evocação, feita através dos milhares de retratos captados pelas câmaras de Chaim Berman, miraculosamente salvos da devastação desses anos, que possibilitou ao realizador ilustrar-lhe a vida através de pequenos filmes de animação inseridos entre depoimentos e imagens de arquivo.
Nascido em 1890, a atração de Chaim pela fotografia manifestara-se desde muito cedo, o que o levou a retratar todos os concidadãos, indiscriminadamente de origem, judia, polaca ou alemã.
Nos anos 30, quando o clima político se nublara, Berman vira-se eleito conselheiro municipal e mantivera o inveterado otimismo numa convivência serena com os vizinhos e conhecidos. Por isso nunca se entusiasmou pela possibilidade de emigrar, chegando a desmotivar quem lhe pedia conselho nesse sentido.
Como seria possível pôr fim a uma presença judaica em solo polaco, que já durava há mais de quatrocentos anos?
Não podia imaginar o que viria a acontecer com as delações, as traições, as deportações e o genocídio de todos quantos na cidade partilhavam a sua religião.
Trata-se, pois, de mais um filme dedicado à memória dos milhares de vítimas do nazismo e de cuja existência restam os rostos, ora tristes, ora alegres, ora esperançosos, ora angustiados, captados por Chaim.
Sem comentários:
Enviar um comentário