É um dos motivos de frustração do leitor voraz: por muito que dedique horas sem fim às propostas, que vão surgindo nas livrarias, apenas uma pequena parte delas se torna acessível. Daí a necessidade de ser rigoroso nas opções disponíveis, ciente de deixar de lado as menos palpitantes, mas igualmente merecedoras de atenção acaso a elasticidade do tempo fosse outra.
Não sei se virei a ter pachorra para me dedicar aos três volumes de Carlos Ruiz Zafon, que se seguiram ao primeiro da tetralogia de «O Cemitério dos Livros Esquecidos». Saiu recentemente o último, «O Labirinto dos Espíritos» e voltam-se a encontrar Julian Carx, Fermin Torres e a livraria Sempere & Filhos» a que se associa Alicia Gris no papel de protagonista deste volume final.
Em 2008 fiquei agarrado pela história de «A Sombra do Vento», que associava uma biblioteca borgeana, escritores sem sucesso, a guerra de Espanha e amores contrariados. O autor criara-a dez anos antes, quando se entediava com o ofício de argumentista em estúdios de cinema da Califórnia e lhe apeteceu preencher a escrita com algo de mais palpitante. Ora, nessa altura frequentava alfarrabistas com montes de livros dos anos 40, no meio de um dos quais encontrou uma carta de amor. Quem a teria escrito e para quem? Como recuperar a memória perdida de um tempo já há muito deixado para trás? Que vicissitudes teriam conhecido os que eram emissor e recetor de tal missiva?
Nos dezoito anos seguintes, e apesar das mudanças entretanto ocorridas por todo o mundo, Zafon nunca perdeu o frio da intriga de vista e explorou-o em mais de duas mil e trezentas páginas, só agora se despedindo dos personagens, que promete não voltar a convocar para o que criar a seguir.
De Joseph Roth nada li até agora, mas descrevem-no como o paradigma do escritor judeu com um humor muito próprio, apesar de ter passado os últimos anos de vida a iludir a ameaça nazi, que sentia persegui-lo para onde se ia exilando. Em «A História da 1002ª Noite» ele imagina um Xá da Pérsia de visita a Viena e, de súbito embeiçado por uma condessa conhecida numa festa.
Julgando-se detentor do poder, que exercia no seu império, convocou essa dama para passar a noite seguinte com ele. Cria-se assim um problema diplomático, que se resolve com a substituição da condessa por uma prostituta, sua sósia. E assim se contenta o soberano visitante num enquadramento histórico, o de vésperas de uma guerra, que tanto terminaria com o império austro-húngaro como com o otomano.
Uma outra proposta recém-publicada é o da última jogada de Hitler para evitar a derrota. «Ardenas», do inglês Anthony Beever, evita o habitual exagero a datas e a nomes, fluindo uma narrativa sobre mês e meio de batalha, entre dezembro de 1944 e janeiro de 1945, quando já não se faziam prisioneiros e a exaustão estava presente nos contendores dos dois lados.
Milhares de vítimas é o saldo de uma campanha, que abriu portas para o passeio dos Aliados até Berlim.
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