sábado, janeiro 14, 2017

(DIM) As fotografias de Elliott Erwitt

Não gostaria nada que um trabalho meu desse proveito a um crápula. Mas foi isso que sucedeu a Elliott Erwitt, quando captou, em 1959, as imagens da visita do vice-presidente Richard Nixon a Moscovo e o apanhou num instantâneo a, aparentemente, invetivar Nikita Khrushchev com o indicador no Parque Sokolniki.
Erwitt tinha, então, 31 anos e já tivera a ocasião para conhecer os truques baixos do «Trickie Dickie», quando ele concorrera a governador da Califórnia. Até então fora das campanhas partidárias mais sujas a que assistira. Por isso, se estivesse em seu poder, nunca faria nada que pudesse beneficiá-lo.
A quase seis décadas de distância a sucessão de imagens de que esse instantâneo faz parte - é aliás o primeiro! - nada sugere a existência de um diálogo tenso entre o político americano e o dirigente soviético. Há até quem afiance estarem então a discutir os méritos de uma sopa. Mas, ao difundir uma imagem tão icónica por todo o mundo, as revistas americanas sugeriram um ascendente de Nixon, que aparentava dar um raspanete ao interlocutor.
Foi, precisamente, com essa imagem que Nixon concorreria a seguir à presidência, autoelogiando-se pela firmeza revelada contra o inimigo comunista. Essa suposta intransigência quase o fez ganhar uma eleição, só perdida porque do outro lado estava Kennedy com a sua imagem moderna e cosmopolita.
Nos anos subsequentes o fotógrafo da Magnum captou muitas outras imagens amplamente conhecidas como importantes testemunhos do seu tempo. E se há fotografado que, após tantos anos na profissão, destaca, é Marilyn Monroe a quem captou na sua frágil candura e sensualidade, já com os sinais da tormenta prestes a desencadear-se. É que fotografou-a durante a rodagem de «The Misfits», de John Huston, que foi o último interpretado não só por ela, mas pelos outros dois protagonistas do filme: Clark Gable e Montgomery Clift.
A pose dos três em primeiro plano numa fotografia em que surgem igualmente o realizador, Arthur Miller e Eli Wallach é daquelas que nos fazem pensar como é efémera a sensação de bonança, porque sombrias tempestades se podem perfilar no horizonte e arrastarem-nos quando delas nos julgávamos a salvo.
Pouco depois, Erwitt iria a Havana acrescentar outras imagens notáveis ao seu portfolio, tendo Che Guevara como retratado.  Sorridente, sonhador e descontraído a fumar um charuto, nunca o revolucionário argentino pareceu tão humano, tão dissociado da iconografia que tratou de o santificar depois da sua morte como mártir de todos os oprimidos.


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