Em 27 de janeiro passam setenta e dois anos sobre a libertação dos campos de concentração.
Para comemorar a efeméride o canal franco-alemão ARTE exibiu um conjunto de documentários sobre um tema que nunca se esgota. Porque nos faculta sempre novas surpresas.
Uma delas aqui aprofundada teve a ver com o comportamento soez da população polaca em relação ao que neles se passava, mesmo que o fumo das torres de incineração fosse tão permanente como o da contínua chegada de comboios, sempre cheios num sentido e completamente vazios no contrário.
A novidade nem sequer está aí, porque há muito se denunciou a hipocrisia de um povo, cuja resistência ao ocupante foi corajosa, mas de reduzida dimensão. Desconhecia sim a avidez com que muitos dos vizinhos dos campos a eles se dirigiram, tão-só os viram abandonados pelos ocupantes soviéticos, porque acreditaram nos boatos quanto à existência de prodigiosas riquezas ali escondidas pelos nazis ao terem adivinhado a aproximação do Exército Vermelho, bastando escavar nos sítios certos para se conseguir enriquecer de um dia para o outro.
Durante semanas esses macabros garimpeiros perseguiram essa ilusão sem a recompensa sonhada.
Outro dos problemas denunciado nesses documentários é o do desrespeito das autoridades locais pelo campo de Auschwitz-Birkenau, permitindo a invasão progressiva da cidade vizinha para a área outrora situada dentro do perímetro de arame farpado, com algumas residências já aprovadas e construídas no exato local onde estavam as câmaras de gás. Sabendo-se como as cinzas eram prontamente enterradas ali mesmo ao lado pelos sonderkommandos, há quem habite sobre um cemitério com cinzas de milhares de vítimas.
Ao longo dos anos novas tentativas das autoridades polacas têm sido perpetradas para alcançar o objetivo de fazer de Auschwitz uma lenda sem existência real. Por isso chegaram a ali permitir um retiro de freiras carmelitas e ainda ponderam na aprovação de um grande centro comercial, onde os visitantes do que dos campos restar, possam ali gastar muitos zlotys. A condição de Património Mundial implica o respeito de silêncio absoluto numa área relativamente larga: uma diretiva desrespeitada, sobretudo, pelos habitantes locais, descendentes dos tais que fingiram não ver o que se passava à sua beira, e que dizem não compreender porque hão-de ser prejudicados pelos efeitos de uma ocupação de apenas quatro ou cinco anos, quando as suas famílias já ali estão radicadas há muitos, muitos mais.
Em muitos aspetos estas situações permitem-nos perceber melhor, porque tem capital em Varsóvia o regime europeu, que conjuntamente com o da Hungria, mais criptofascista se revela.
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