De que matérias evanescentes são feitos os nossos sonhos? Serão apenas reflexos dos nossos recalcamentos como pretendia Freud ou neles se acolhem formulações de angústias e ambições, para cuja resolução procuramos as mais adequadas respostas?
Os cientistas têm andado à procura de respostas, analisando o funcionamento do cérebro, quando estamos a dormir, mas as hipóteses são muitas mais do que as teses definitivas sobre o verdadeiro significado das várias fases por que passamos durante o sono.
Em 2010 não sentira qualquer pulsão para ver «Origem», o filme de Christopher Nolan sobre a capacidade de induzir pensamentos ou comportamentos aproveitando-lhes as fragilidades defensivas inerentes a estarem a dormir. Se o sono me preocupava era o real, o de todos os dias, porque ainda não me reformara e os dias de trabalho obrigavam-me a saltar da cama em horário hoje impensável de respeitar.
Apesar de ter um tema interessante reconhecia ao realizador o defeito a mim assacado por quem melhor me conhece: para se ir de um sitio a outro, desprezam-se os atalhos, optando-se pelo percurso mais complicado. Uma coisa é ser assim, outra é aturar esse tipo de comportamento alheio.
Acontece que agora se proporcionou conhecer o filme e confirmar o que dele esperava: confuso, apesar dos personagens estarem constantemente a quererem-nos fazer o desenho do entretanto ocorrido; entediante apesar do foguetório de perseguições, explosões e tiros.
Como se se tratasse de Dante a tomar Vergílio como guia para conhecer os vários círculos do Inferno, também aqui somos convidados a passar do primeiro para o segundo nível dos sonhos, tudo se definindo no terceiro, aquele de onde seria mais difícil regressar.
No final temos um happy end com o protagonista a reencontrar os filhos, que perdera durante tempo demais, por lhe ser assacada a culpa de uma morte - a da mulher legítima! - de que ele, efetivamente, se sentia responsável.
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