Confesso a ignorância de só agora ter passado a conhecer quem é Larry Kramer. O documentário de Jean Carlomusto, datado do ano transato e acessível na net, revela não só a sua corajosa personalidade, mas o quanto se lhe deve na salvação de milhares de vidas só porque, com o seu ativismo e indignação, exigiu a descoberta de antídoto para a grande praga de que também se sentira vítima: a Sida. Nas ruas e nas televisões, nos palcos e nos jornais, Kramer foi uma voz persistente e revoltada, decidida a fazer-se ouvir por quem teimava em fazer orelhas moucas a um grave problema de saúde pública a nível mundial.
Nos anos 80 a doença chegou a ser vista como uma bênção pelos movimentos religiosos e ultrarreacionários dos Estados Unidos, que a consideravam uma punição divina dirigida exclusivamente à comunidade homossexual. Por isso só muita luta nas ruas e nos meios de comunicação social, com muitas prisões e agressões pelo meio, forçou a Administração Reagan a sair do imobilismo e os laboratórios farmacêuticos a acelerarem os seus trabalhos, até por se compreender, entretanto, que a doença não era tão seletiva quanto a diziam, pois incidia igualmente nos heterossexuais, fossem ou não hemofílicos.
Mas até se conseguirem tratamentos eficientes para conter a doença, e não lhe permitir danos irreversíveis no sistema imunitário, morreram milhares de pessoas, muitas delas, entre as mais inteligentes e criativas do seu tempo.
O documentário de Jean Calamusto, que chega a aparecer no filme a cuidar de Kramer numa das hospitalizações a que foi sujeito, permite-nos conhecer a biografia de um escritor para quem a arte passou a constituir arma decisiva nos seus combates.
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