Ao longo dos séculos a ciência reduziu o animal a um ser condicionado tendo por função a responta instintivamente a estímulos triviais. Não se lhe reconhecia inteligência nem emoções, porque o seu universo mental seria inexistente. Tratava-se de uma criatura com carne sangue, mas sem alma, nem consciência.
No século XVII Descartes defendeu a tese do animal-máquina, servil e silencioso, que ajudava o homem ao puxar a carroça, a diverti-lo, a oferecer-lhe carne, mas que não pensava, não sentia nem sofria.
A grande inflexão a essa opinião - que quase chegaria aos nossos dias! - , ocorreu já neste século com evidências científicas a mostrarem-no como um ser que pensa. As novas técnicas, sobretudo na área da imagiologia, permitindo o estudo do sistema nervoso, confirmaram a semelhança dos nossos processos cognitivos com os dos animais.
Nestes anos mais recentes os cientistas concluíram que os animais - desde o polvo ao elefante, do cão à abelha, da lagosta ao golfinho - pensam, sentem, sonham e têm consciência, partilhando com os humanos as estruturas neuronais na origem desses processos. Hoje o estudo do comportamento animal é indissociável da compreensão da sua psicologia.
É certo que dificilmente chegaremos à identificação dos pensamentos mais íntimos de um animal. Mas convenhamos que a experiência mostra-nos como, quase sempre, é-nos tão difícil adivinhar o que pensa outro ser humano, quanto mais se temos, por exemplo, diante de nós um morcego ou um peixe de aquário. Mas interessa aos cientistas o aprofundamento do que se passa no cérebro dos animais para lhes tentar entender a estrutura do espaço mental, medir-lhe a atividade e captar-lhes os estados de alma.
À medida que se intensificar esse conhecimento os efeitos políticos serão significativos, tornando-se inaceitável o massacre anual de sessenta mil milhões de animais terrestres pela indústria alimentar, sujeitos a condições chocantes como tantos filmes existentes nas redes sociais testemunham. O vegetarianismo, ou mesmo o veganismo, tenderão a estabelecer-se como sinónimo de comportamento civilizado para com os animais, que partilham connosco o planeta. Daqui a algumas décadas seremos vistos como bárbaros, sem nenhum respeito pela vida de outros seres vivos.
Se precisarmos de provas dessa tendência basta olharmos para o sucesso de partidos que dizem representar os animais ou as revistas que fazem capa com este tema, como sucedeu na «Science et Vie» do mês transato de onde foram recolhidas algumas destas informações.
Os animais tenderão a ser cada vez mais escutados na sociedade, na indústria, no ensino, nos laboratórios, nas tradições e até na moral. E a ciência, que tanto demorou a admitir-lhes o universo mental, tende a pôr-se na primeira linha para os escutar. Porque reconhece que têm, não só afetos, mas pensamentos.
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