Na série de cinco romances dedicados ao tão seu idolatrado Ramsés II, Christian Jacq abordou no segundo - «O Templo dos Milhões de Anos» - os primeiros três anos do reinado do faraó, quando tem de se livrar da sombra do defunto pai, Séti, a quem os egípcios veneravam e, sobretudo, das tentativas golpistas dos opositores, cujas ações clandestinas tornaram difícil adivinhar a sua autoria. Mas tivesse Ramsés lido Agatha Christie - que até andaria em pesquisas arqueológicas na região alguns séculos depois -, e não lhe seria difícil perceber que, quem o queria derrubar desde o primeiro dia, era o seu irmão primogénito, Chénar, a quem o pai negara o trono por o considerar pouco qualificado para tanta responsabilidade.
Poderei torcer o nariz a alguma excessiva imaginação do autor, que faz andar pelas margens do Nilo o grego Menelau com a sua infeliz Helena, ou um Homero, que estaria ali a redigir laboriosamente as suas grandes epopeias. Mas, como o autor é um dos mais reputados egiptólogos da atualidade, só temos de nos curvar à sua sapiência.
Outra opção discutível é emprestar aos personagens de então o tipo de comportamentos dos da atualidade, como se eles fossem intemporais e não obedecessem à lógica de outras idiossincrasias. Mas, também devo reconhecer que não saberia discernir quais os então verificáveis, porque os antigos egípcios parecem de nós tão distantes como o seriam os verdes marcianos se acaso existissem.
Emitidas estas reservas temos a história de um soberano jovem a quem a sorte muito irá ajudar, por muito que conte com a ajuda providencial de amuletos, serpentes e de um leão domesticado capaz de atacar providencialmente nos momentos mais complicados.
Além do invejoso Chénar existem os traidores confessos, de quem Ramsés não desconfia, e os aliados indefetíveis, capazes de por ele darem a vida.
Na sombra ainda agem os antigos adoradores de Aton, que tinham passado à clandestinidade com a morte de Akhenaton, e os espiões dos hititas apostados em identificarem o momento de maior fragilidade do reino para aconselharem nova invasão. Pelo meio andam os Hebreus liderados por Moisés, muito apreciados pela qualidade de construtores de cidades: é a eles que Ramsés recorre, quando se trata de criar uma nova capital no delta do Nilo e chamada Pi-Ramsés.
Quando chegamos à última página Moisés anda fugido por ter assassinado o cunhado do faraó, que prepara uma expedição à Síria, depois de já ter assegurado a vitória militar contra uma insurreição na Núbia.
Em suma, e apesar de todas as dúvidas, que nos assaltam, eis um romance que se lê com enorme facilidade ao assemelhar-se a um policial dos nossos dias.
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