Já passaram muitos anos desde que ficámos muito agradavelmente surpreendidos com o trabalho de uma companhia profissional vinda do distrito de Viseu e que dá pelo nome de Teatro do Montemuro.
Não recordamos o título da peça, mas ela impressionou-nos pela inteligência com que se adaptara ao espaço então gerido pela atriz Lúcia Sigalho no edifício do antigo Museu dos CTT na Av. Almirante Reis e que se chamava a Casa d"Os Dias da Água.
Deambulando ao caso pelas diversas divisões do prédio íamos encontrando atores e atrizes que, individualmente, nos iam contando as suas histórias muito associadas aos atavismos lusos.
Já contando com uma rica história de ininterrupta atividade há mais de um quarto de século, o Teatro do Montemuro é, ainda hoje, o inacreditável milagre de uma empresa cultural nascida e sedeada na aldeia de Campo Benfeito, onde só restam 48 habitantes.
«Memórias Partilhadas», a excelente proposta agora vista no espaço de O Bando em Palmela, resultou do pedido da companhia a três autores - Therese Collins, Abel Neves e Peter Cann - para criarem outras tantas histórias em torno de uma carteira vazia, um lápis e uma almofada de penas de cuco.
O resultado foi agradabilíssimo de se ver com um trio de atores a agirem em cena com a maior das naturalidades, mesmo mudando de um papel masculino para feminino, e vice-versa num mero instante, e a darem expressão a histórias sempre relacionadas com questões pertinentes do nosso dia a dia mesmo geograficamente situadas na geografia original dos seus interpretes: as memórias, a amizade, o que é ou não verdade, etc.
Uma vez mais existe a competência irrepreensível do desempenho, a estranheza delicada das canções e uma herança óbvia da tradição dos contadores de histórias, que se foi perdendo com os avanços dos audiovisuais.
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