Abordei a primeira página de «Entre Mulheres» sem grandes expetativas. O nome de Julianna Baggott nada me dizia em relação ao que os EUA têm produzido de mais interessante a nível de Literatura - DeLillo, Auster, Frazen, Roth ou Kennedy - mas decidi-me por tal leitura ao ler que a autora, embora pouco prolixa em romances, é reconhecida como poetisa estimável. Não se trataria, pois, de um romance cor-de-rosa ou de quantos são concebidos com a perspetiva prévia de virem a tornar-se argumentos cinematográficos e garantirem mansões em Bel Air para quem age na escrita com pose mercenária.
Uma das narradoras é Lissy que, à beira dos trinta anos, vê-se num impasse, apesar de grávida de um ex-amante casado a quem omitirá essa novidade. Habita Nova Iorque e partilha o apartamento com Church, um amigo da adolescência com quem perdera a virgindade aos quinze anos, e ele próprio à deriva quanto ao futuro pretendido. Por agora apaixona-se à primeira vista pela stripper coreana, que o antecedera no apartamento e com quem viverá um casamento tão súbito, quanto rapidamente desfeito.
Nesse verão em que ela e Church tinham-se assustado com a cópula ensaiada numa piscina, o pai dela tinha fugido com uma das suas clientes do consultório de ginecologia e fora viver a ilusão de uma paixão tardia num outro Estado.
Dotty, a mãe de Lissy, quisera escapar às más-línguas de Bayonne e decidira partir com a filha para uma viagem que a levara, primeiro, a casa da mãe de Church, com quem partilhara os estudos na Universidade onde ambas se tinham formado como enfermeiras. Fora assim que Lissy conhecera o rapaz, muito embora o episódio carnal estivesse reservado para um par de semanas depois, quando já estavam alojadas em casa de Dino Pantuliano, um mafioso de pequena dimensão, mas com um razoável nível de vida graças ao mercado clandestino, que comandava.
E se tudo no romance é marcado pelo seu carácter efémero, também é rico em novidades inesperadas: é nessa viagem para o sul dos EUA, que Dotty se torna na outra narradora da história, revelando à filha a verdadeira identidade do seu progenitor. De facto, aquele que ela julgara até então ser o pai, não o fora porque Dotty já ia grávida quando casara com esse médico de perna postiça por efeitos do seu alistamento para o Vietname.
O verdadeiro pai de Lissy é Anthony, o sobrinho de Dino, que de hippy radical nos anos 60 se transformara num pequeno burguês que ganhava a vida como vendedor de Buicks num stand de automóveis.
Nos anos seguintes, sempre solteira, Lissy irá comprando-lhe os sucessivos carros sem nunca lhe revelar a sua condição de filha. E depois de tantas vicissitudes, e com a mãe quase a morrer, Lissy considera-se ainda mais parecida com ela do que esta o era consigo mesmo. No que isso queira eventualmente dizer...
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