Faz-se muito e bom teatro um pouco por todo o país. E, porque não há disponibilidade para as longas deslocações até onde elas habitualmente atuam, só podemos agradecer ao Bando a oportunidade de servir de anfitrião a companhias itinerantes, que se apresentam no Vale de Barris nos dois primeiros fins-de-semana de cada mês.
Na semana passado tínhamos visto o Teatro do Montemuro, que viera da zona de Lamego. Desta feita, aproveitámos a oportunidade para conhecer o Teatro Peripécia sedeado normalmente em Vila Real, mas com presença assídua em palcos nacionais, espanhóis e latino-americanos.
«Vincent, Van e Gogh» é uma produção que integra o reportório do grupo há onze anos, mas continua a ser um sucesso público por todo o lado onde é visto. Por isso é previsível, que continue a ser apresentado nos próximos anos, dando-nos a oportunidade de lhe ir conhecendo a evolução.
O tema é obviamente o da vida e obra do pintor holandês e logo a cena inicial dá o mote para o que se seguirá - três girassóis representados por outros tantos chapéus de palha discutem entre si. E é esse o primeiro dos quadros ilustrados ao longo da peça, que também evoca «Hospital de Saint Remy», «Comedores de Batatas», «A Casa Amarela de Arles», o «Autoretrato com orelha cortada», o «Dr. Gachet» e «O Campo de Girassóis sem Corvos» entre outros.
Os três atores em cena - Sérgio Agostinho, Noelia Dominguez e Angel Fragua - transformam o percurso de van Gogh numa comédia com o seu quê de vaudeville, outro tanto de cinema mudo (sobretudo na expressividade impressiva dos atores) e ainda o universo das caricaturas do primeiro quartel do século XX. Pelo palco também passam Toulouse Lautrec e Gauguin, o irmão Theo e os psiquiatras a quem Van Gogh recorreu para controlar os excessos da sua loucura.
Não existem muitos adereços para compor o cenário, mas os poucos existentes são utilizados com uma inteligência surpreendente: a representação do comboio para Paris, com recurso a chapéus, a fumo de um cigarro e à vocalização dos atores constitui um momento memorável.
Resultado da criatividade dos seus intérpretes aos quais José Carlos Garcia acrescentou a estruturação inerente ao trabalho de encenação, «Vincent, Van e Gogh» foi aquele tipo de espetáculo de que se sai com a sensação de se ter fruído o prazer raro de ver associada a alegria à inteligência.
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