Numa das suas mais famosas boutades, o físico Richard Feynman disse um dia aos seus alunos que se fossem incapazes de explicar a Teoria da Relatividade ou a Física Quântica á sua avó analfabeta era porque nada percebiam de tais matérias.
Eu pecador me confesso que, nem à minha avó analfabeta - já há muito desaparecida! - nem sequer a um dos muitos analfabetos, que ainda subsistem na sociedade portuguesa, e que segundo números desta semana ainda são quinhentos e cinquenta mil.
Se fica assim justificada a minha ignorância quanto ao assunto que esteve esta semana em todos os telejornais - a confirmação da existência de ondas gravitacionais! -, posso acrescentar o meu deslumbramento por tal prova decorrer de um evento acontecido há mais de mil milhões de anos, mas, como a luz viaja a uma velocidade finita, só há poucos meses é que atingiu os detetores do LIGO — que estavam a postos para receber o seu eco.
Essas ondas tinham sido teorizadas por Einstein no início do século passado mas, depois de ter sido considerada o Graal da Ciência contemporânea, só agora foram confirmadas pela observação. É que elas são causadas por fenómenos astronómicos cataclísmicos capazes de deformarem o “tecido” do espaço-tempo ao propagarem-se no espaço à velocidade da luz.
Os cientistas concluíram que estas agora identificadas resultaram da fusão de dois buracos negros — com respetivamente 29 e 36 massas solares —, ocorrida há uns 1300 milhões de anos e que deu origem a um outro com o equivalente a 62 massas solares.
Não deixa de ser curioso que o próprio Einstein viera a duvidar da possibilidade de existirem tais ondas gravitacionais, que atribuía a mero artefacto dos seus cálculos.
Foi o mesmo Feynman, aqui referido a propósito do conselho de humildade aos seus alunos, que, conjuntamente com outros dois cientistas, concluíram pela inevitabilidade de existirem tais ondas propagadoras da gravidade por todo o Universo, só assim se reiterando a Teoria da Relatividade Geral. Foi, perante esta tese, que, nos anos 60, começaram a ser construídos os primeiros equipamentos científicos destinados a comprová-la.
O entusiasmo da comunidade científica com a confirmação de uma notícia, que já surgira em setembro passado, mas carecia ser devidamente validada, justifica-se por abrir novos e estimulantes desenvolvimentos para o avanço do conhecimento do Cosmos e, muito particularmente, quanto aos tais 96% do Universo, que nos permanecem completamente escondidos do alcance visual dos telescópios, seja por constituírem buracos negros, como os agora identificados, seja por serem a tão misteriosa e inalcançável «matéria negra».
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