Inicia-se hoje um novo ciclo na Cinemateca dedicado ao cinema dos anos 50, definido como sendo aquele que se revelava a meio caminho de uma arte já com cento e vinte anos de existência.
Nessa década alguns cineastas, como John Cassavetes, libertaram-se da lógica até então seguida pelos estúdios de Hollywood e realizaram projetos com semelhanças aos que na Europa se começavam a designar como da «Nouvelle Vague». É por isso que se considera ter sido uma das décadas de maiores mudanças na sétima arte, com reflexos diretos na década seguinte, quando se afirmariam os cinemas nacionais em todas as latitudes. Com outro tipo de linguagem, de referências ou de universos.
Nesta segunda-feira exibir-se-ão «Lola Montes» de Max Ophüls (às 15.30) e «A Sombra do Caçador» de Charles Laughton (21.30).
O último filme assinado por Ophüls data de 1955 e tem Martine Carol como protagonista de uma história em que uma cortesã famosa perdeu a aura e ganha agora a vida num circo a contar a sua vida em sucessivos quadros.
Na época os produtores massacraram o projeto do realizador, alterando-lhe até a estrutura em flashbacks. Só muito mais tarde foi possível conhecê-lo tal qual Ophüls o idealizara, sendo agora reconhecido como uma das obras-primas da História do Cinema.
O filme de Charles Laughton - o único por ele realizado - data igualmente de 1955 e ganhou o estatuto de filme maldito até a crítica francesa o incensar, sobretudo pela sua iluminação expressionista.
Robert Mitchum é um pastor sinistro, que mata a mulher com quem casara na expectativa de se apropriar do elevado pecúlio, que ela teria, e por isso persegue os enteados rio abaixo para que eles lhe digam a localização desse tesouro. Quem protegerá as crianças e impedirá o criminoso de ter sucesso será uma anciã, que se dedica a ajudar as crianças abandonadas. Um papel inesquecível da já venerável Lilian Gish.
Entre as duas sessões é projetado mais um filme da retrospetiva dedicada ao realizador alemão Rosa von Praunheim, iniciada em janeiro.
Desta feita exibe-se o documentário «Tally Brown, New York» (às 19h), que incide sobre uma das mais famosas personalidades do “underground” nova-iorquino dos anos 60 e 70. Nessa época, Tally Brown foi cantora e atriz do Living Theatre e trabalhou com Andy Wharol.
Trata-se, pois, de uma excelente oportunidade para evocar uma das épocas mais singulares na vida cultural da grande metrópole americana.
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