domingo, fevereiro 28, 2016

DIÁRIO DE LEITURAS: «Le Mariage du Plaisir» de Tahar Ben Jelloun

O novo romance de Tahar Ben Jelloun tem por tema um costume datado dos tempos do Profeta e ainda hoje praticado pelos xiitas: quando longe de casa um viajante não infringe as regras do Islão se, em vez do recurso a uma prostituta, contrair um casamento temporário com uma “mulher honrada” a quem oferece um dote. No final da estadia o contrato caduca por mútuo acordo e o crente regressa a casa e à mulher legitima.
Nos anos 40 Marrocos ainda conhecia a escravatura encapotada, com a complacência do ocupante colonial francês. É nessa época do século transato que a história começa quando Amir, comerciante em Fez, viaja até Dakar para comprar mercadorias e aí contrai um desses “casamentos de prazer” com Nabou, uma negra por quem se apaixona loucamente. Por isso decide trazê-la consigo no regresso a Marrocos para impô-la à primeira mulher, uma branca de quem possui quatro filhos. E que vai fazê-la sofrer vexames racistas...
O que se segue é, porém, contraditório: a mulher branca desaparece de cena e a negra dá a Amir dois filhos gémeos, um branco e outro negro.
Já neste milénio, Salim, um dos netos do comerciante de Fez, decide viajar entre o Senegal, onde nascera, e a terra do avô, encontrando um país muito mais violento e intimidante do que o do passado. E onde acaba por morrer!
Estamos, pois, perante uma história de amor, que evolui para uma outra sobre os ódios raciais: o tio branco de Salim enriquecera e ganhara um invejável estatuto social, enquanto o irmão fora rejeitado, devolvido à terra da progenitora.
O romance também aborda a realidade das crianças trissómicas muito por influência de Jelloun ter um filho com tal característica. Por isso dedica-lhe o livro e cria-lhe uma espécie de seu alter ego, que, desde o início até ao final, será uma espécie de anjo que paira por toda a história..

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