Até o ver hoje como convidado especial de Elizabeth Quin no seu programa diário nunca ouvira falar do escritor israelita Avraham B. Yehoshua.
Porque quero acreditar numa solução para o Médio Oriente, que vá além da solução de dois Estados, para que passe pela criação de um grande Estado binacional, democrático e inteiramente laico, onde a convivência entre os vários credos monoteístas possam coexistir pacificamente com os cada vez mais representativos ateus, predispus-me a conhecê-lo enquanto defensor dessa ambiciosa solução e até pelo carácter revelador da sua biografia: não só foi durante muitos anos o principal editorialista do Haaretz (o grande jornal da esquerda israelita) como esteve envolvido nas negociações de paz, que culminaram no finado Acordo de Camp David.
Nascido em Jerusalém, quando eram os britânicos quem colonizavam aquele território, participou nas guerras do Sinai e na dos Seis Dias. Desde então dedicou-se à escrita com a publicação de sucessivos romances sobre a Comédia Humana identificada no seu país, o que lhe valeu a comparação com Honoré de Balzac.
Em França ganhara particular reputação com «Rétrospective», o romance galardoado com o Prémio Médicis em 2012.
Agora a Grasset publica-lhe o mais recente romance - «La Figurante» - onde ele assume não ter grandes preocupações ideológicas, porquanto ter-se-á sobretudo preocupado em contar bem uma história. Mas, logo pelo que dela sabemos através do site da editora, dificilmente escaparemos aos reflexos óbvios da atual conjuntura percecionada em Jerusalém.
Noga, a protagonista do romance, está radicada em Arnehim, na Holanda, em cuja orquestra municipal é harpista.
Está em vias de conhecer o seu momento de consagração ao interpretar como solista o Concerto para Flauta e Harpa de Mozart, quando recebe um pedido de ajuda do irmão, Honi, que vive em Jerusalém: o velho apartamento da família está em vias de ser exigido pelos proprietários, que pretendiam aproveitar a ausência da mãe, entretanto internada numa casa de repouso em Telavive.
Reocupando a casa onde nascera, Noga vai trabalhando como figurante em papéis propiciados pelo irmão ao mesmo tempo que retoma ligação com o país e com os compatriotas, quase esquecida durante o seu confortável exílio holandês.
Descobre assim um bairro transformado pelos judeus ortodoxos, reencontra um vizinho, trava conhecimento com Eléazar que se reformara de inspetor da polícia e faz figuração em filmes da produção local
E eis que, do passado, ressurge Ourya, com quem ela estivera casada...
Sem comentários:
Enviar um comentário