Este é o ano do centenário de Léo Ferré, que nasceu em Monte Carlo em 24 de agosto de 1916. Por isso será provável que muito leiamos e ouçamos sobre a sua biografia e obra.
Porque sou um ferrenho ferréano há mais de quarenta anos, começo aqui a celebrá-lo com a evocação do espetáculo por ele apresentado no Olympia em 1972, quando o meu futuro cunhado Robert mo daria a conhecer sob a forma de diversos LP’s. E, de entre eles, já constavam os do ciclo «Amour Anarchie» ou «La Solitude», que permaneceriam sempre entre os meus preferidos.
Ferré já era também o homem das múltiplas encarnações - como cantor, poeta, compositor, maestro - que suscitava uma admiração quase religiosa em função do seu carisma.
O anarquismo levava-o a troçar dos soldados e das instituições, senão mesmo a insultar os ministros e os generais. Satã era invocado com delicadeza e, meio século passado sobre a sua derrota, continuava a cantar a gesta republicana espanhola com o mesmo fervor de sempre.
Considerado um excelente melodista, com um sentido do ritmo e de palco muito peculiar, enunciava meticulosamente cada frase, que se tornava facilmente compreensível por quem o escutava. E o à-vontade em ambiente intimista para interpretar temas inseríveis na canção popular era o mesmo quando se colocava à frente de uma grande orquestra para dar a sua versão da beethoveniana abertura de «Egmont».
E, no entanto, Ferré não deixava de ter surpreendentes contradições: antiburguês, vivia num castelo; execrando a instituição conjugal, não deixaria de casar com a sua bem amada; ou enfatizando o futuro, não deixava de defender a ancoragem da felicidade no presente. Celebremos, pois, Ferré e a sua admirável capacidade para sempre se ter sabido renovar...
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