É a história de dois personagens ansiosos pela reforma: Léa foi cortesã e descobre, já balzaquiana, os prazeres de ter a cama só para si. Por seu lado Fred tem 19 anos, é filho de uma riquíssima libertina e está saturado de cinco anos consecutivos dedicados ao deboche.
Ambos conhecem-se desde os tempos em que ele ainda andava de calções. Ela é a «nounoune», ele o «chéri». E, em vez de se evitarem como se fossem a peste, ela toma-o por gigolo, para depois o considerar amante, e enfim no seu grande amor. Até ao dia em que ele pensa casar… sem ser com ela, obviamente!
Com a ajuda de Christopher Hampton, que já com ele colaborara em «Ligações Perigosas», Stephen Frears transformou o romance de Colette numa história tipicamente inglesa, para o que contribuem os comentários esporádicos à ação, com aforismos irónicos ao jeito de um Oscar Wilde.
Chéri transforma-se num avatar de Dorian Gray, esse eterno jovem inventado pelo escritor em causa. A menos que o consideremos uma metamorfose de Peter Pan espartilhado pela terrível infância. Rupert Friend, o protagonista quase só surge através do rosto, ora banal, ora fascinante na forma como exprime a vontade de fuga de si mesmo.
A crítica levantou reservas ao empolamento dado por Frears ao guarda-roupa, aos cenários e à própria fotografia. Minimizaria assim o papel dos atores! Mas há um momento inesquecível, quando a câmara capta Michelle Pfeiffer na escadaria, já destroçada pela passagem do tempo e pela desilusão sentimental, simbolizando por si mesma a Belle Époque, que estava a chegar ao fim...
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