Quando assisto a peças de Tennessee Williams o que mais me fascina - para além das grandes interpretações proporcionadas pelos enredos - é a capacidade do escritor em urdir uma teia de emoções em crescendo capaz de pressionar o incomodado espectador contra a cadeira onde se senta. Porque tudo ali lhe gera tensão não havendo personagem com quem verdadeiramente empatize, nem sequer as inábeis vítimas que muito se agitam na teia onde tememos vê-las definitivamente enredadas. Todos em cena têm máscaras, que dificilmente escondem o lado sombrio, que os motiva a enfrentarem os demais. Há que reconhecer em Williams o talento de conjeturar e desenvolver uma história com sentimentos tão conflituantes.
Em 1959 Joseph Mankiewicz proporcionou a Katharine Hepburn uma memorável interpretação da personagem de Violet Venable face a Elizabeth Taylor, que era Catherine, a jovem viúva apostada em impor a verdade sobre a personalidade de quem tão subitamente desaparecera numa praia mexicana no verão anterior. Ora ela bem lhe conhecera a propensão para as relações com outros homens, que tanto a haviam feito sofrer. Revelá-lo assume a dimensão catártica de se libertar de quanto agora a instabiliza mentalmente. Mas, aproveitando-se a fragilidade da nora, Violet decide branquear a memória do filho, dele impondo uma versão imaculada para a qual conta com a colaboração de um psiquiatra, que pressiona a aplicar naquela a definitiva lobotomia. No confronto entre a sogra e a nora há a rivalidade entre mulheres, que amaram o mesmo homem e buscam remédio para o quanto por ele saíram sofridas. Até porque, além da homossexualidade do defunto, também o incesto está latente na forma como Violet se relacionara com Sebastian ou Catherine com o próprio irmão.
Dificilmente conseguimos olhar para essa história passando ao lado das memórias dela deixadas pelas duas atrizes anglófonas e pelo angustiado psiquiatra interpretado por Montgomery Clift. Mas fica a curiosidade de Carlos Avilez ter arriscado regressar a esse Bruscamente no Verão Passado: a peça abriu o Festival de Almada deste ano e estará em cena no resto do mês em Cascais. Para demonstrar que Manuela Couto e Bárbara Branco substituem Hepburn e Taylor com distinção ou confirmar a regra de não se justificar o regresso ao que tanto, em tempos, nos agradou, sobretudo, se dele se busca, mais do que a grata memória, uma sua versão alternativa?
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