terça-feira, julho 21, 2020

(AV) Quando Nadar perdeu o negócio da fotografia para os artesãos


Nadar fotógrafo conheceu o auge do seu sucesso por volta de 1860. Na década que se seguiu uma profunda alteração iria ameaçar-lhe os rendimentos: em vez dos retratos de qualidade e em grande formato, entraram na moda os mais baratos em tamanho de postal. Eugène Disdéri assegurava aos clientes a reprodução do seu aspeto por um décimo do que pagariam ao deslocarem-se ao atelier do famoso concorrente da rua Saint-Lazare. E outros fotógrafos espalharam-se pela capital francesa, todos competindo no preço por atraírem quem quisesse alimentar os imprescindíveis álbuns da família.
Desinteressado dessa forma estereotipada de fotografar, Nadar regista a patente do primeiro flash, que lhe permitiria trabalhar sem a luz do dia , nomeadamente, nas catacumbas de que registou imagens suficientes para as expor em Londres em 1862. E assume outra inovação para desenvolver a atividade: a captura de imagens a partir de balões. Definitivamente deixava para os artesãos a exploração do negócio cujas virtualidades entreabrira e mantinha as preocupações artísticas com ele relacionadas. Só que os rendimentos mitigavam-se, as dívidas cresciam e viu-se obrigado a mudar-se para instalações mais exíguas na rue d’Anjou. Não sem antes facultar o atelier aos impressionistas - Monet, Pissarro, Sisley. Renoir ou Degas - para que aí organizassem a memorável exposição de 1874 com as obras de acesso negado pelo Salon oficial.
Em 1887 Félix passa o atelier ao filho, Paul, e instala-se em Marselha durante dois anos. Mas logo volta a Paris a tempo de comparecer à retrospetiva organizada em sua honra pela Exposição Universal. Tinha oitenta anos e a saúde declinava. Razão porque dedica-se às Memórias: Quand j’étais Photographe  reflete as experiências dos anos 50 e 60 do século XIX
Em 1909 morre-lhe Ernestine com quem estivera casado cinquenta e cinco anos. Nonagenário ainda está prepara homenagem a um dos seus melhores amigos - Charles de Baudelaire intime. A morte levou-o quando os portugueses estavam a pouco mais de seis meses de se livrarem da monarquia...

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