segunda-feira, julho 06, 2020

(NM) Uma boa razão para voltar à Galeria dos Uffizi


Lamento ver comprometido o projeto para, neste verão, irmos estrada fora até à Holanda, aproveitando, na ida e no regresso, para regressarmos a sítios particularmente gratos em tempos, que já lá vão, mas continuam a ser memoravelmente resgatados com bastante frequência.
Para este ano Florença não cabia nos planos, mas reservou-se para outra oportunidade, tanto mais que ficou tanto por conhecer da última vez que lá estivemos. E até para melhor aproveitarmos o que visitámos, mas nos passou despercebido. É o caso da Galeria dos Ofícios, o notável edifício criado no século XVI pelos Médicis para albergar a sua coleção de arte e constituindo, dois séculos depois, um dos mais antigos museus do mundo disponíveis para o público em geral.
Se dessa vez a prioridade comparecermos perante o «Nascimento de Vénus» de Botticelli ou as obras de outros grandes nomes do Renascimento como Miguel Ângelo ou Caravaggio, passaram-nos completamente despercebidos os quadros de diversas pintoras que, na sua época, foram reconhecidas como notáveis artistas. Trabalhando sobretudo nos conventos, onde tinham escolhido ou sido obrigadas a acolher-se, elas revelaram-se ao melhor nível dos contemporâneos, desmentindo a ideia feita de se tratar de uma coutada exclusivamente masculina.
Notável, sobretudo, Artemisia Gentileschi com o seu «Judite decapitando Holofernes» numa versão ainda mais impressiva do que a de Caravaggio, porque reveladora de um ultrarrealismo possivelmente enraizado na emoção de quem vivera ou testemunhara o comportamento sexualmente agressivo dos homens para com as mulheres. Há quem veja nesse quadro - que valerá a pena ser descoberto ao vivo! - uma representação eloquente do intemporal desejo de vingança das mulheres em relação a quem as violentou ou assediou...

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