No início de 1850 Nadar era um tenaz opositor ao regime de Napoleão III, que caricaturava em ilustrações publicadas nos jornais da época. Tinha trinta anos e vivia com a mãe na Rua Saint-Lazare junto à estação ferroviária homónima, a primeira criada em Paris treze anos antes.
Quase coincidente com essa inauguração acontecera a apresentação do primeiro processo de registo da realidade em placas de cobre: os daguerreótipos. Para a alta sociedade parisiense a possibilidade de eternizar-se em retratos resultara num tal entusiasmo que o atelier de Gustave de Gray ganhou súbita notoriedade ensinando os respetivos alunos a dominarem os processos químicos pelos quais essas imagens eram captadas. Foi nele que Félix Nadar matriculou o irmão, Adrien, em quem os almejados talentos de pintor se haviam revelado assaz limitados. Logo que o soube capacitado a exercer o ofício de fotógrafo de retratos instalou-lhe o atelier no boulevard des Capucines, décadas depois celebrizado pela primeira sessão do cinematógrafo dos irmãos Lumière. E porque, entretanto, se entusiasmou com essa nova arte, o próprio Félix montou o próprio atelier na sua residência.
O negócio de Adrien depressa entra em crise e, embora recém-casado com Ernestine Lefèvre, Félix vai dar-lhe uma mão contando com a ajuda dos seus muitos amigos do mundo das artes e das letras, que vêm posar perante a sua câmara. Entre os primeiros contam-se Baudelaire, Théophile Gautier, Alexandre Dumas, Gustave Doré e até Gérard de Nerval, poucos dias antes de se suicidar.
O atelier volta a emergir financeiramente e Adrien, que passa a chamar-se «jovem Nadar», pede ao irmão para dele se afastar. Os irmãos zangam-se embora só após a morte da mãe em 1860, é que Félix impõe judicialmente que o único detentor da marca Nadar é ele próprio. Na fachada do edifício da rua Saint Lazare aparece a inscrição «Seule maison Nadar (sans succursale)». A ele acorreu um fluxo contínuo de clientes dispostos a verem-se reproduzidos pela câmara do fotógrafo que passou a dedicar quase todo o esforço criativo a essa opção artística. As melhorias técnicas, que implementa, permitiam expressões dos retratados com uma naturalidade decorrente de se terem livrado da obrigatoriedade de ficarem minutos intermináveis perante a câmara. Em escassos segundos Nadar captava-os espontaneamente sem quase se darem conta de terem ficado definitivamente registados. Ele sente ser essa a única forma de ir para além das aparências e alcançar a dimensão do retrato psicológico.
Nesse início da década de 60 Nadar queria não só reaver o nome como impor um estilo fotográfico de que só ele parecia ter os segredos. Daí que ganhasse numerosas medalhas em França e noutros países com as fotografias enviadas aos muitos concursos já então organizados um pouco por toda a Europa.
A falência de Adrien resolveu uma dessas preocupações e Félix sentiu demasiado exíguo o espaço onde trabalhava ocupando doravante aquele onde Le Gray ganhara fama. Na fachada apareceu um reclame concebido artisticamente por Auguste Lumière, que ostentava o sucesso do fotógrafo chegado ao auge do seu percurso. Muito embora já começasse a visar outros objetivos...
Sem comentários:
Enviar um comentário