sábado, julho 04, 2020

(NM) Yeats, Comboios no deserto e chineses em St.Pauli


1. Não conheço grande coisa de Yeats. Ouvi-lhe alguns poemas, sei-o Nobel da Literatura algures na década de 20 e pertinaz investigador dos mitos da Irlanda natal pejada de fadas e elfos. A cultura céltica terá estado significativamente representada na sua obra.
Num pequeno apontamento de reportagem sobre essa obra literária, relacionável com os prados verdes à volta de Sligo ou Galway ou com as costas tempestuosas batidas pelo Atlântico, ficou essa ideia de quem nunca se quis dissociar do sítio onde nasceu e cresceu. O espírito do lugar aconteceu-lhe precisamente onde sempre viveu, sem necessidade de o ir procurar num qualquer longe.
2. O maior comboio do mundo percorre o deserto do Sara entre as minas de ferro em Zouerat e o porto de Nouhadibou. São dois quilómetros e meio de composições carregadas de minério com algumas destinadas a passageiros, que apanham boleia sem nada pagarem.
Nos setecentos quilómetros de extensão da linha existem apenas duas paragens e a paisagem é quase sempre a da enorme extensão de areia, raramente pontuada por algum dromedário selvagem ou uma família nómada em trânsito para outro oásis mais aprazível. À chegada não poderia existir maior contraste entre os tons amarelos e ocres deixados para trás e o infinito azul do oceano à sua frente. E assim se definem as riquezas de que os mauritanos sobrevivem (mal): o minério das montanhas, que se vão definhando, e o peixe cada vez mais raro do Cabo Branco.
3. A Segunda Guerra Mundial continua a ser um inesgotável alfobre de histórias por descobrir. Por exemplo nada soubera até hoje da pequena comunidade chinesa, emigrada em Hamburgo desde os anos 20 e a quem os nazis decidiram eliminar em 1944, quando estavam a faltar-lhes judeus para alimentarem as vorazes chaminés dos campos de concentração.
Antes da ascensão de Hitler ao poder o bairro de St Pauli era assaz movimentado, mesmo que sem as características depois adquiridas no pós-guerra. Mas quem quisesse experimentar comida chinesa já aí contava com restaurantes para além do muito comércio gerido habitualmente por essa comunidade. E a história do que sofreu no período entre 1933 e 1945 ainda está quase inteiramente por fazer...

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