Em 18 de setembro de 1980 uma bomba nuclear esteve quase a explodir em Damascus no Arkansas numa base militar onde estavam instaladas ogivas nucleares Titan II em rampas de lançamento. Bastou um erro de procedimento de um dos jovens técnicos de manutenção para que o desastre acontecesse e arriscasse causar milhares de mortos, porque a carga em causa era centenas de vezes superior à do engenho despenhado sobre Hiroshima, Dave Powell e o seu parceiro de equipa já tinham mais de doze horas de turno, quando deixou cair uma tomada sobre a superfície da ogiva e a danificou o suficiente para que do seu interior se começasse a libertar combustível.
Robert Kenner realizara em 2008 um famoso documentário sobre a relação causa/efeito entre a jubk food e a transformação da indústria agroalimentar - Food Inc. Oito anos depois associou-se a Eric Schlosser para adaptar-lhe a aprofundada investigação por ele reproduzida num livro sobre o acidente. Recorrendo a entrevistas com os intervenientes, a materiais de arquivo e à reconstituição com atores, ele dá conta do pânico, que se apossou dos responsáveis da base de Damascus até a ogiva ser encontrada a alguns quilómetros de distância com a carga incólume e se comprovar a sorte incrível que a todos havia poupado. Mas o documentário vai mais longe, denunciando factos, que explicam o clima de guerra fria então prevalecente e que justificava ainda estarem ativos os mísseis Titan II, que já deveriam ter sido destruídos. Mas, nas negociações com os soviéticos sobre o desarmamento nuclear, Jimmy Carter pretendia utilizá-los como efetivo sobre o qual se operaria a redução a negociar entre as partes. E, no entanto, nessa época, umas centenas de ogivas bastariam para destruir todo o território soviético. Ora os norte-americanos possuíam 25 mil.
Acresce ainda outra curiosidade palpitante sobre o que poderia ter acontecido acaso se tivesse verificado o pior: a poucos quilómetros da base, os democratas preparavam as eleições seguintes em Hot Springs, tendo por anfitrião o jovem governador do Estado: um tal Bill Clinton.
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