quarta-feira, julho 15, 2020

A solidão como efeito nefasto da pandemia


É tema de capa da Science & Vie deste mês: a solidão constitui a face escondida da pandemia pois o isolamento físico e social é perigoso fator de distúrbios mentais. Vários estudos demonstram que a solidão altera-nos o cérebro, desregula-nos a imunidade e aumenta-nos os riscos cardiovasculares. Razões de sobra para aprofundarmos o conhecimento desta estranha ambiência feita de rostos mascarados, olhares fugidios, cumprimentos trocados por trás de painéis em acrílico e proibições de beijos ou apertos de mãos. Sem o esperarem os sociólogos e outros cientistas estão a enfrentar uma inesperada experiência psicológica à escala real, que poderá repercutir-se duradouramente nos corpos e nas mentes das pessoas.
Algumas conclusões são já possíveis de alinhar sobre o isolamento forçado:
 -  causa no cérebro um efeito semelhante ao da fome provocando uma diminuição no volume da massa cinzenta, sobretudo no hipocampo (associado à memória) e na amígdala (relacionada com as emoções);
 - reduzem-se as ligações entre neurónios;
 - o stress crónico liberta cortisol no sangue aumentando a tensão arterial e acrescente probabilidade de enfartes cardíacos severos;
 - desregula-se o sistema imunitário, quer provocando reação excessiva às infeções bacterianas, quer diminuindo as defesas virais.
Leonhard Schilbach do Instituto Max-Planck considera que o nossos cérebro é condicionado pelas relações sociais: uma simples troca de olhares pode ativar circuitos cerebrais de recompensa.
Este tipo de confinamento nada tem a ver com o assumido de livre vontade, que pode revelar-se positivo nos casos de depressão e ansiedade. E acontecem exceções positivas em situações de isolamento forçado, que possibilitaram fulgurantes descobertas: Isaac Newton, por exemplo, descobriu o conceito de gravidade no seu jardim quando estava a ele cingido pela epidemia da peste de 1666.

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