1. De Teresa Veiga já nada lia há alguns anos depois de lhe conhecer as primeiras obras há uns bons trinta anos. Em Le Cose Belle acompanhamos a atividade de uma clínica pró-vida, que vai-se transformando de acordo com o faro do seu proprietário, o dr. Pascual, para outros nichos rentáveis. É assim que depressa há a decisão de fazer abortos nas irredutíveis grávidas dispostas a não levarem a gestação até ao fim ou implementar tratamentos inovadores para a impotência masculina. Não conhecendo limites o ousado empreendedor até acaba por criar um espaço de animado convívio para homens e mulheres de idade mais provecta, mas decididos a reavivarem os prazeres da carne num espaço a meio caminho entre um clube para orgias ou um prostíbulo de terceira idade.
2. De Julian Fuks li, com muito prazer, o romance A Resistência onde as vicissitudes políticas no Brasil e na Argentina nos anos das respetivas ditaduras se entreligavam com as das complexas relações do narrador com um irmão adotado. Agora reencontro-o num conto da Granta em que o incipit dá logo o tom das três histórias, que o integram: “Todo homem é a ruína de um homem”.
E ele pode ser um bêbedo numa cadeira de rodas a quem o narrador é instado a pagar uma cachaça, mesmo devendo negar por isso um suco a uma criança, que também lho solicitara, mas para o qual não lhe sobravam trocos no bolso. Pode ser o pai no leito do hospital, acometido de uma infeção, que o inchou. Ou um refugiado sírio desejoso de partilhar, com quem se dispusesse a ouvi-lo, a história de como nunca mais vira a família desde o dia em que ganhara coragem para fazer um discurso político numa praça em Homs.
3. Singular o conto Vissolela de José Eduardo Agualusa em que o narrador é contactado para entrevistar uma transsexual particularmente excitante para os muitos clientes, que a procuram. Mas foco de ódios de quem olha para essa conduta e a verbera, porque pecadora à luz da visão mais austera da religião. E, no entanto, acompanhando sucessivas notícias que lhe vão chegando da nova amiga o narrador acaba por concluir pela inesperada ambiguidade da imagem, que dela formara.
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